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Mitsubishi Pajero TR4 2.0 16V Flex Automática: Chegou a hora da verdade!

Fora da estrada esse carro é uma fera, será que dentro da oficina ele se garante? Veja o que os reparadores independents dizem a respeito desse versátil carro

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Por Tenório Júnior


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Em 1991, após o Brasil ter aberto as portas às importações, surgiram os primeiros veículos produzidos pela Mitsubishi no país, e foi na cidade de São Paulo que a marca inaugurou o primeiro ponto de venda.

Impulsionada pela comercialização da L200, em 1992 deu-se início à importação do Pajero Full, que foi um sucesso de vendas. Alguns anos depois, em 1998, foi inaugurada a primeira fábrica da Mitsubishi do Brasil.

Em 2007 foram lançados os primeiros veículos 4x4 flex. Logo em seguida, em 2008, com tecnologia 100% nacional, foi apresentado o Pajero TR4 2.0 16v flex. Um veículo versátil que promove ótimas condições para uso urbano, rodoviário e off-road. Para tanta versatilidade o veículo conta com quatro opções de tração: 4x2, 4x4 contínua, 4x4 com diferencial central bloqueado e 4x4 com reduzida. Significa dizer que esse veículo está tecnicamente preparado para qualquer tipo de terreno, mas, é preciso respeitar seus ângulos de entrada, saída e inclinação lateral máxima, que são todos de 35º, bem razoáveis para o uso off-road.

Falar sobre os adjetivos e das funcionalidades desse afamado SUV é relativamente fácil, no entanto, nosso objetivo com essa matéria é revelar os segredos acerca da manutenção, que estão fora do alcance da visão comum, somente os olhos técnicos dos experientes reparadores, somados à prática do dia-a-dia, são capazes de revelar os detalhes e características desse veículo - alguns prós e outros nem tanto. 

No bairro do Pirajuçara, Zona sul da cidade de são Paulo, encontramos o Eduardo Silva Pereira, 38 anos (foto 01), proprietário da HP Auto Elétrico, técnico em reparação automotiva e Advogado, profissão que exerce em paralelo nas horas vagas, mas o seu coração bate forte mesmo quando o assunto é reparação automotiva. “Eu iniciei na borracharia do meu pai, depois me especializei em autoelétrico e hoje, com 25 anos de experiência, tenho minha oficina em sede própria”, diz o técnico Eduardo. 

Consultamos também duas oficinas especializadas na marca Mitsubishi. Força Mit, está localizada na Chácara Santo Antônio - Zona Sul da cidade de São Paulo. Fernando de Miranda Assis (foto 02), é o técnico especializado na marca e proprietário da oficina. Ele tem 34 anos de idade e 20 anos de experiência no ramo. Fernando começou a se interessar pela mecânica quando era criança, vendo o pai mexer em seus carros “velhos”; trabalhou na oficina de um amigo varrendo a oficina e lavando peças. “Em 2007, participando do Rally dos sertões, surgiu a curiosidade de conhecer mais a fundo os veículos da marca, foi quando entrei numa concessionária Mitsubishi onde permaneci por 6 anos, saí de lá para abrir a minha própria oficina”, diz o reparador. 

Para completar o trio, fomos à outra extremidade da cidade de São Paulo, bairro da Barra Funda – Zona Norte. A oficina Miltfort é uma referência quando o assunto é Mitsubishi. Wagner Maldonado Garcia, 42, (foto 03) é sócio e o técnico responsável pela oficina. Wagner começou estudando mecânica no Senai aos 14 anos de idade; trabalhou durante três anos numa concessionária da Volkswagem,  um ano em oficina multimarcas e  depois entrou numa concessionária Mitsubishi. “Desde então, venho me especializando cada dia mais, e assim, somam 17 anos de experiência só com veículos da Mitsubishi”, conta o experiente reparador.

Agora que já conhecemos um pouco da origem de cada reparador, vamos ver o que eles dizem a respeito do Pajero TR4 2.0 16v Flex Automático.

SUSPENSÃO DIANTEIRA 

Sobre a suspensão dianteira, Eduardo diz que as bieletas (foto 4) e as buchas da barra estabilizadora (foto 5), apresentam defeito com frequência. E os amortecedores dianteiros apresentam vazamento por volta do 80 mil km. Os batentes dos amortecedores também quebram com certa frequência (fotos 6 e 7).

De acordo com Fernando, que atende em média 150 veículos por mês, a suspensão é bem resistente mas algumas peças precisam de atenção especial, como as buchas do braço tensor, que duram em média 30 mil km. Ainda em relação à suspensão dianteira, o técnico faz questão de compartilhar uma experiência: “É muito comum na TR4 um “estalo único” que ocorre em manobras, esse barulho é ocasionado por uma leve movimentação do rolamento de roda dianteira, dentro de seu alojamento. A recomendação é de substituir o rolamento e a manga de eixo, no entanto, na maioria das vezes, a simples substituição do rolamento, resolve o problema. Mas, é necessário que o rolamento seja genuíno”, orienta o experiente técnico. 

Além das peças citadas pelos colegas, Wagner acrescenta: “Os pivôs são componentes que normalmente apresentam desgaste, o problema é que eles não são vendidos pela concessionária; no mercado independente é possível encontrar a peça, no entanto, as marcas encontradas não são duráveis, nesse caso, a solução para quem quer fazer um serviço mais seguro e durável, é desembolsar uma grana considerável e comprar a bandeja completa na concessionária”, diz o especialista. 

Em contrapartida, segundo Wagner, a concessionária já disponibiliza as buchas dos tensores fabricadas em poliuretano, substituindo as originais que eram de borracha. “Aqui na Miltfort nós só colocamos as de poliuretano porque são mais resistentes e não interferem na geometria da suspensão”, arremata o técnico.

SUSPENSÃO TRASEIRA

O reparador Eduardo já percebeu que o as buchas do eixo traseiro quebram mais rápido quando o carro carrega muito peso. 

De acordo com o reparador Fernando, as buchas dos braços tensores, inferiores, lado da carroceria, não são muito resistentes (fotos 8 e 9).  Em condições mais severas, a durabilidade é ainda menor. Porém, são fáceis para serem substituídas, afirma o técnico especialista.

Segundo Wagner, quando essas buchas estão avariadas, apresentam uma folga de aproximadamente 1 cm na roda traseira, o que provoca a perda de estabilidade acima de 60 km/h. 

FREIOS

Os técnicos consultados não relataram nenhum problema comum ou recorrente no sistema de freio dianteiro (foto 10) nem no traseiro (foto 11).

A Unidade controladora eletro-hidráulica do ABS (foto 12) e os sensores de velocidade (fotos 13 e 14) estão bem posicionados, fáceis de serem removidos para eventuais manutenções. 

Fernando faz uma observação: “o freio é um pouco ‘borrachudo’, dá a impressão que o carro não vai parar, mas é uma característica do carro.” 

DICA DO CONSULTOR OB

É importante lembrar que, independentemente do veículo e da característica do freio, se ele possui ABS, no momento de maior exigência deve-se pisar forte e manter a pressão no pedal até que a situação de perigo esteja sob controle. Só assim, o sistema eletrônico do freio entrará em pleno funcionamento para cumprir o papel.

INJEÇÃO ELETRÔNICA

Nos relatos dos três técnicos, o sistema de injeção não apresenta nenhuma dificuldade. Todos recomendam a substituição preventiva das velas e cabos com 20 mil km. 

Wagner diz que os bicos queimam com certa frequência. Já o reparador Eduardo sugere a limpeza dos bicos a cada 20 mil km, principalmente se estiver usando álcool e faz um alerta: “é muito comum nesse tipo de veículo sujar o motor de barro, nesse caso, quando for lavar o motor deve-se tomar cuidado na hora porque pode danificar algum componente eletrônico, como por exemplo, a bobina” (foto 15), diz ele. A melhor condição para lavar o motor e evitar o choque térmico é quando ele estiver bem frio ou utilizar água quente; não utilizar produtos que são derivados de petróleo e proteger os componentes eletrônicos que estão mais expostos.

O Pajero TR4 tem algumas particularidades, dentre elas, o formato do tanque de combustível, que é dividido em dois “reservatórios” (fotos 16 e 17) e cada um possui uma bomba de combustível e um sensor de nível. Segundo os técnicos, tanto os sensores quanto as bombas costumam dar defeito. Se der defeito em algum dos sensores de nível, a recomendação é a substituição dos dois. No caso da bomba também, porém, segundo o técnico Wagner da Miltfort, “a concessionária já fornece um kit com apenas uma bomba que substitui a bomba auxiliar, esse sistema já é aplicado nos modelos acima de 2010”, orienta o reparador. 

O acesso aos conjuntos das bombas é por dentro do carro, sob o banco traseiro (foto 18). Parece fácil e de fato deveria ser, mas a montadora deu uma “escorregada”. Do lado esquerdo, o furo do assoalho não está alinhado com a porca plástica que prende o conjunto da bomba (foto 19), de modo que, segundo o reparador Eduardo, deve-se soltar o tanque e deslocá-lo para o lado de modo que a abertura existente no assoalho permita a desmontagem do conjunto da bomba.

Fernando comenta que o fusível da bomba costuma queimar e o motivo, na maioria das vezes é defeito na própria bomba. “Se o fusível queimar, verifique o consumo elétrico da bomba, se estiver muito alto, o melhor é fazer a substituição da mesma”, orienta o técnico.

Uma reclamação comum sobre esse veículo é o alto consumo de combustível, segundo o técnico Wagner, essa é uma característica por ser Off Road. “Aqui nós fazemos a reprogramação do módulo de injeção eletrônica apenas nos modelos acima de 2009. A redução do consumo é bem satisfatória”, afirma com propriedade o técnico.

Fernando dá uma dica importante: “os modelos Flex apresentam uma falha recorrente; quando passa em alguma poça de água o motor simplesmente desliga. O defeito está na distância do sensor de rotação em relação a roda fônica (polia do motor). Nesse caso, é só aproximar o sensor regulando com uma lâmina de 0,50 mm”, orienta Fernando. Para completar a dica, o técnico Wagner diz: “Se após essa regulagem o problema persistir, é necessário substituir o sensor de rotação”. 

DICAS DE OURO 

01 - O técnico Fernando chama a atenção para quando for substituir a correia dentada, porque nos motores Flex o sincronismo da correia não segue a mesma orientação dos motores a gasolina. 

02 – O técnico Wagner complementa: O problema é que a referência específica para o Flex vem marcada de tinta e costuma sumir com o tempo (foto 20). Segundo ele os motores Flex trabalham com dois “dentes” da polia do virabrequim, adiantados em relação aos motores antigos à gasolina. 

03 - Quando for trocar a embreagem do TR4 com câmbio mecânico, desligue o sensor do corpo de borboleta para não quebrar o fio do sensor nem o sensor, orienta o técnico Wagner.

CÂMBIO

Os reparadores consultados dizem que o câmbio desse veículo é muito bom e resistente. O técnico Wagner nos dá um parâmetro sobre a incidência de defeitos de câmbio: “Aqui na Miltfort nós atendemos cerca de 400 veículos por mês, a cada dois anos eu faço manutenção em um câmbio de Pajero, seja mecânico ou automático”. Segundo ele, os problemas encontrados foram por falta de manutenção e/ou manutenção inadequada. No caso dos câmbios manuais, a ocorrência comum é desgaste nas luvas de engate porque o motorista costuma descansar a mão sobre a alavanca. E nos câmbios automáticos a maior incidência de defeito está relacionado à lubrificação, tanto pela falta de troca do óleo quanto pelo uso de lubrificante inadequado. 

A substituição do óleo do câmbio automático, segundo os reparadores, é um procedimento relativamente simples, porém, extremamente técnico, por isso, deve ser realizado por profissionais qualificados. O manual do proprietário indica a substituição desse óleo a cada 80 mil km. 

Para Wagner, abaixo do Pajero Full, que é eletrônica, o TR4 possui a melhor tração e mais fácil de ser utilizada. “Um problema recorrente acontece no solenoide do 4x4. Por ficar perto do motor, a alta temperatura faz a sua resistência baixar ao ponto de perder o magnetismo, provocando o engate involuntário do 4x4”, explica o especialista. Trata-se de um sistema eletrônico de proteção da Mitsubishi. Pois, numa situação de emergência, como defeito no solenoide, queima de fusível e rompimento de fio, o sistema identifica a inoperância do componente e automaticamente aciona a tração nas quatro rodas, assegurando que a pessoa consiga tirar o carro de uma situação de risco (caso esteja), completa Wagner. 

Segundo o mesmo técnico, esse importante componente está localizado na parte interna do para-lama direito (lado do motor - foto 21). “É fácil para efetuar a substituição da peça, o problema está no preço, é bem salgado”, diz o técnico.

DICA DO CONSULTOR OB

No modelo avaliado há um defeito de fábrica que pode deixar qualquer um maluco. Trata-se de um ruído parecido com rolamento de roda ou pneus. Esse “ronco” aparece exatamente aos 80 km/h. O problema está no protetor de cárter, devido ao seu formato e posicionamento, o ar que passa por ele provoca esse ruído semelhante ao de rolamento. Para resolver o problema basta colocar calços para abaixar o protetor de cárter (foto 22). 

Obs: Na foto há dois calços, não foi feito o teste com apenas um calço, mas pode ser que resolva. 

REPARABILIDADE

De modo geral, os reparadores não encontram dificuldades para efetuar os reparos nesse modelo. Porém, segundo o reparador Wagner, alguns defeitos e ajustes só são possíveis com o aparelho de diagnóstico específico da marca. 

INFORMAÇÃO TÉCNICA

Para o reparador Eduardo a dificuldade para obter informação junto à concessionária é grande. “Eu precisava de informações técnicas sobre a troca de óleo do câmbio automático e não consegui, o jeito foi recorrer aos amigos reparadores”, diz indignado o reparador, que também é proprietário de um Pajero TR4. 

Para os demais reparadores consultados, o acesso à informação técnica se torna fácil porque são oficinas especializadas na marca e principalmente pelo conhecimento que eles possuem dentro das concessionárias. 

Nota: A Mitsubishi criou um portal exclusivo para o reparador independente: www.reparadormit.com.br. Nesse site é possível encontrar muitas informações técnica. Entretanto, aquelas informações práticas que surgem no dia a dia da oficina, não estão lá. E quando precisamos delas... só recorrendo mesmo aos amigos e ao fórum do jornal Oficina Brasil. 

PEÇAS

As peças para esse veículo, segundo relato dos reparadores, são encontradas com facilidade nas concessionárias, com exceção de algumas mais específicas. O problema é o alto custo e a falta de um desconto diferenciado para os reparadores. Segundo o técnico Fernando, o mesmo desconto que ele recebe da concessionária que é de apenas 10% o seu cliente também consegue. Nesse caso, acaba sendo “obrigado” a recorrer às autopeças e às importadoras, que oferecem peças de qualidade reconhecida e confiável.  

Na oficina Força Mit, a utilização de peças compradas na concessionária é de aproximadamente 30%, justamente pelo custo elevado. “Muitas vezes nós encontramos as mesmas peças originais no mercado independente com um custo muito menor, o serviço é garantido e o cliente fica satisfeito”, diz Fernando. 

Eduardo, da HP Auto Elétrica, relata que os clientes normalmente não concordam com o alto custo da concessionária, isso o obriga a procurar alternativas confiáveis, no mercado paralelo.

A oficina Miltfort conta com uma loja própria que comercializa exclusivamente peças da marca Mitsubishi, é a SJM 4x4 Auto Parts. Contudo, a dificuldade para trabalhar na oficina com as peças genuínas é grande. Segundo Wagner, no caso da suspensão 80% das peças, necessariamente são compradas nas concessionárias porque não encontram essas peças de boa qualidade no mercado independente. O inverso acontece quando a necessidade é de peças para motor, apenas 20% são compradas na rede, as demais são encontradas no mercado independente das mesmas marcas que as genuínas, porém, com preços bem inferiores. Na parte de freios, Wagner afirma: “100% das peças de freio são compradas fora da concessionária, com a mesma qualidade e muitas vezes com maior prazo de garantia”. 

RECOMENDAÇÃO

Eduardo – Eu indico esse carro para meus clientes e amigos porque é um carro resistente e muito forte, atende às expectativas na cidade e fora de estrada. Mas, tem alto consumo de combustível e custo das peças originais elevados.

Fernando – Indico! Porque é um ótimo carro e a reparabilidade é excelente. Mas, tem o consumo alto e se o cliente exigir peças genuínas o custo torna o carro inviável.

Wagner – Indico! Pela reparabilidade que é muito boa, é prático e, apesar de ter custo elevado das peças genuínas, é possível efetuar as manutenções com o menor custo possível, o que torna a relação custo x benefício muito boa. O único contra é o consumo de combustível, que é bem alto. 

CONCLUSÃO

De acordo com os relatos espontâneos dos técnicos consultados, fundamentados em suas experiências do dia-a-dia nas oficinas, podemos concluir, sem rodeios, que o Pajero TR4 2.0 16v Automático é um carro muito bem avaliado pelos reparadores, que deixam bem especificados os pontos fortes e os fracos.

 Pontos fortes: Reparabilidade; versatilidade; dirigibilidade e custo/benefício.

Pontos fracos: Custo alto das peças genuínas; informação técnica; política de comercialização das peças e alto consumo de combustível.

Diante desse cenário, não podemos deixar de observar que o problema maior não está no carro, mas na marca. Apesar da exemplar iniciativa de criar um site exclusivo para o reparador, percebe-se que a Mitsubishi e seus concessionários ainda mantém uma grande distância das oficinas independentes. Isso não é uma estratégia boa porque os reparadores precisam tanto da parceria com as concessionárias quanto a marca precisam do aval dos reparadores independentes. Afinal, após o período de garantia da fábrica, os proprietários passam a levar seus estimados veículos para os reparadores independentes, pois confiam e seguem fielmente suas orientações, indicações e principalmente as contraindicações. 

 

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