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Jeep Willys, nascido nos campos de batalha, o valente soldado trilhou seu caminho de sucesso mundial

Há mais de meio século o valente Jeep, projeto para a guerra, conquistou o mundo com o seu carisma e até hoje é sinônimo de veículos 4x4

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Por Anderson Nunes


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Aposentadoria: esta palavra ainda não existe para o Jeep. Ao completar 80 anos no mês de julho, o nome deste octogenário soldado – assim como Gillete virou sinônimo de lâmina de barbear e Danone de iogurte – é um caso típico de marca que superou fronteiras do próprio produto, transformando-se em substantivo para indicar qualquer veículo utilitário dotado de tração 4x4. 

Se hoje ele pode desfrutar dessa fama, na época de seu lançamento, porém, ninguém apostava que um produto tão rústico pudesse atingir tamanha popularidade. Entretanto a eficiência e a durabilidade do Jeep provaram o contrário e fizeram dele um soldado com inúmeras condecorações ao redor do globo. 

Toda a fama alcançada teve início em 1938, quando o exército norte-americano estava à procura de um novo veículo para substituir as motocicletas com side cars (carrinhos fixados lateralmente a elas) utilizadas para tarefas tais como de mensageiros e reconhecimentos avançados nos conflitos. 

A pequena fábrica American Bantam Car, sediada em Butler, no estado da Pensilvânia, foi a primeira exibir seu protótipo. A empresa contatou os oficiais exército estadunidense em meados de 1939 e apresentou três protótipos com peso de 580 kg, entregues em setembro do mesmo ano para testes. Entretanto todos os modelos foram recusados, sob a alegação de não atenderem às especificações militares. 

A invasão da Polônia pela Alemanha Nazista, em 1 de setembro de 1939, ocasionou o início da II Guerra Mundial. Em meados de 1941, porém, o Eixo (alinhamento político da Alemanha, Itália e Japão), consegue conquistar o restante da Europa e da África do Norte, e a necessidade de desenvolver um veículo valente para desbravar caminhos difíceis tornava-se ainda mais urgente. 

Em julho de 1941 o exército norte-americano enviava uma solicitação a 135 fabricantes de veículos. As especificações contemplavam um veículo 4x4, dotado de carroceria em aço estampado de fácil fabricação, capaz de carregar três passageiros e uma metralhadora, com peso máximo de 650 kg, para que um soldado pudesse erguer uma das extremidades quando necessário, com carga útil de 350 kg. 

Somente três empresas conseguiram atender às solicitações técnicas impostas pelo governo norte-americano, foram elas: Bantam Blitz Buggy, em seguida a Willys com o Quad, e por fim a Ford, que apresentou o Pygmy. Embora o modelo da Bantan tenha agradado ao exército pela agilidade e valentia no fora de estrada, a Willys ganhou pontos importantes devido ao seu motor, chamado de Go Devil (Vá para o diabo), de 60 cv de potência bruta. Isso ajudou muito a companhia instalada na cidade de Toledo, estado de Ohio, a se sobressair, pois os motores da Bantam e da Ford desenvolviam apenas 45 e 46 cv, pela ordem.  

Esse motor, com o chamado cabeçote em “L” por trazer as válvulas no bloco, tinha ainda o argumento da baixa altura total, relevante por permitir que o veículo atendesse a outra especificação do exército: poder passar por um espaço de 90 cm de altura – com o para-brisa rebatido, claro. A cilindrada era de 2,2 litros e o torque máximo de 14,5 m.kgf. 

Após os exaustivos testes de campo, o exército norte-americano decidiu-se por padronizar apenas um veículo. Foi selecionado o modelo da Willys, incorporando algumas das características dos modelos da Bantam e da Ford, entre elas os faróis incorporados ao lado da grade. Ao entrar na linha de produção o Willys MA foi renomeado MB. 

Ao final da Segunda Guerra Mundial, mais de 600 mil Jeeps haviam sido fabricados e feito da batalha um grande campo de provas, com ótimas recomendações. Até o final do conflito em 1945 a Willys havia entregue 368 mil, a Ford 232 mil e a Bantam apenas 2.675. Coube à Willys capitanear a fama de valente do Jeep ao redor do mundo. Com desenlace do conflito e a vitória dos aliados, era a vez do Jeep ganhar as ruas. 

RUMO À CIVILIZAÇÃO

No fim da Segunda Guerra Mundial, a Willys continuou fiel ao seu lema de produção em vigor durante o conflito: “O sol nunca se põe sobre um Jeep Willys”, criando assim a base para o uso civil de seu famoso modelo. Os estudos para oferecer o Jeep no mercado civil começaram antes mesmo do fim do conflito bélico. Em 1944, foram desenvolvidos planos para se utilizar o Jeep na agricultura. Com esse objetivo, a Willys-Overland produziu 22 protótipos, com o nome de CJ-1A ou “Civilian Jeep”, a partir do primeiro modelo do exército.    

A produção do primeiro Jeep civil, o CJ-2A, teve início em agosto de 1945, ao preço de 1.090 dólares. O CJ-2A era similar ao modelo MB militar, acrescido de equipamentos tais como tampa traseira, limpador de para-brisa a vácuo e tampa de gasolina externa. O nome Jeep deveria estar presente na traseira, nos vidros e no capô. Entretanto uma disputa judicial sobre a origem do nome comercial Jeep, com a American Bantam Car, impedia de adotar tal denominação. Esses primeiros veículos ganharam as ruas somente como Willys.

O CJ-2A era oferecido com uma série de implementos agrícolas que colaboravam para o trabalho diário dos fazendeiros tais como arado, semeadeira e até mesmo cortador de madeiras. Entretanto ainda devia muito em conforto, sobretudo para aqueles motoristas acostumados aos veículos de passeio. 

A Willys-Overland encerrava os anos 40 com o lançamento do CJ-3A, em 1949. Trazia sutis mudanças estéticas tais como para-brisa mais alto e com cantos arredondados, o para-brisa tornava-se inteiriço, com limpadores na parte inferior, e três entradas de ar articuladas. Os bancos ganharam uma nova estrutura, permitido uma melhor acomodação e liberando mais espaço para as pernas dos ocupantes, tanto da dianteira como na traseira. Em junho de 1950, a Willys obtinha o registro da palavra Jeep e podendo assim estampar o nome nas carrocerias.

MOTORES MAIS POTENTES

Para a linha 1953, a Willys apresentava o modelo CJ-3B, o primeiro modelo a receber pequenas mudanças na carroceria, devido à chegada do novo motor Hurricane, ainda com o cabeçote em “F” (válvulas de admissão no cabeçote e de escape no bloco), projeto por Delmar Roos. Chamava a atenção o desenho do capô mais alto e arredondado nas laterais, medida esta feita para acomodar o motor de quatro cilindros, de 2,2 litros, com potência de 75 cv e torque de 15,7 m.kgf.

Em abril de 1953 a Willys era adquirida pela Kaiser Corporation por 60 milhões de dólares. A novidade na linha 1954 era a chegada do modelo CJ-5, que trazia melhorias no chassi, motor e espaço interno. O modelo ostentava linhas mais arredondadas nos para-lamas dianteiros e nas caixas de roda traseira. O CJ-5 teve como base a versão militar M38A1, de 1951, que serviu na Guerra da Coréia e no Vietnã.

Após 10 anos sob o guarda-chuvas da Kaiser Corporation, em março de 1963 era anunciado que a Willys Motors, tornava-se, oficialmente, Kaiser Jeep Corporation. A mudança de nome não diminuiu em nada o crescimento da linha Jeep. Em 1965, um novo motor V6 batizado de Dauntless foi introduzido como opção para a linha Jeep CJ-5, com distância entre-eixos de 2,06 metros e CJ-6, com distância entre-eixos de 2,70 m. Com 155 cv, esse motor desenvolvia o dobro de potência do motor de 4 cilindros Hurricane. O motor V6 provou ser tão popular que, em 1968, cerca de 75% dos CJ-5s foram vendidos nesta configuração. 

SOB A BANDEIRA DA AMC

No início dos anos de 1970, a Jeep estava em um período de expansão comercial e lançamentos de novos produtos, mas a indústria Kaiser não tinha capital financeiro para bancar esse momento da marca. Assim, fevereiro de 1970, a American Motors Corporation (AMC) adquiriu o controle acionário da Kaiser Jeep, por 70 milhões de dólares. O aporte de capital efetuado pela AMC possibilitou uma renovação em seu parque fabril, bem como lançamento de novos modelos e dois novos motores.

A American Motors começou a equipar o Jeep com seus próprios motores, o que também exigiu alterações na carroceria e no chassi. O trem de força de 4 cilindros da Willys foi substituído pelos motores de 6 cilindros em linha batizados de “Torque Command”. O motor padrão passou a ser o 3,8 litros (232 pol³) de 100 cv e, opcionalmente, o 4,2 litros (258 pol³) com 112 cv. Também em 1972, o motor V8 de 5 litros (304 pol³) da AMC tornou-se disponível, oferecendo 150 cv e 33,5 m.kgf de torque. Outras mudanças no trem de força incluíram um novo eixo dianteiro - um Dana 30 totalmente flutuante.

Para acomodar os novos motores, a distância entre-eixos foi alongada em 76 mm, e os para-lamas e o capô foram estendidos em 127 mm. Um novo chassi foi instalado, com seis travessas para maior rigidez. Um tanque de combustível de maior capacidade foi instalado entre os eixos, antes ficava acondicionado debaixo do assento do motorista. O rádio passou a ser instalado pelas concessionárias a partir de 1973, o ar-condicionado tornou-se disponível em 1975.

Para a linha 1976 era apresentado o Jeep CJ-7, mais espaçoso (devido ao entre-eixos de 2,37m), além de mais bem equipado quando comparado ao CJ-5. Vinha de fábrica com capota de lona e portas de metal. Entre os opcionais havia o teto rígido de aço e o câmbio automático de três marchas da GM. 

O CJ-7 também estava disponível nos modelos Renegade e Laredo. Distinguido por seus diferentes decalques na carroceria, o modelo Laredo apresentava bancos de couro com encosto alto, volante com regulagem de altura e um pacote cromado que incluía os para-choques, a grade dianteira e os espelhos laterais. Um diferencial traseiro de deslizamento limitado era um opcional disponível. 

Em 1982 era instalado um novo motor de quatro cilindros, desenvolvido pela AMC, de 2,5 litros, de 105 cv e 18,2 m.kgf de torque. De início era alimentado por um carburado de corpo duplo, posteriormente ganhou injeção eletrônica monoponto TBI (117 cv) e depois foi atualizado para a injeção multiponto (chegando a 125 cv). Nesse ano o motor V8 deixava de ser oferecido. A produção do Jeep CJ-7 foi encerrada em 1986, sendo comercializadas mais de 370 mil unidades e, para muitos puristas e entusiastas, foi o último ano de produção do legítimo Jeep. Isso porque, no mesmo ano, a Chrysler Corporation adquiria a AMC e os direitos de fabricação do icônico 4x4. No mesmo ano era apresentado o Wrangler, que trazia um projeto todo renovado quanto aos modelos da família CJ. Chamavam a atenção os faróis retangulares e molduras plásticas ao redor das caixas de rodas. No interior era adicionado um novo painel de instrumentos mais completo. O Wrangler será objeto de uma reportagem mais completa futuramente. 

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