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Duster Oroch inaugura novo segmento de mercado, e a sua reparabilidade é colocada à prova

Derivada do SUV Duster, a nova picape recebe uma boa avaliação técnica dos reparadores independentes, mas ainda restam pontos a serem melhorados

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Por Da redação


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Na edição Dezembro de 2015 do Jornal Oficina Brasil, seção lançamentos, apresentamos em detalhes a nova Duster Oroch, que inaugurou no país um novo segmento de mercado, posicionado entre as picapes pequenas (Strada, Saveiro e Montana) e as picapes médias (Hilux, S10, Amarock e Ranger). Se fosse um lutador, a classificação médio-ligeiro lhe cairia muito bem, mas o combate na recém-criada categoria, é contra um adversário de peso, no caso a picape Tora da Fiat.
Como de costume, escolhemos profissionais de três empresas do Guia de Oficinas Brasil para participarem desta avaliação, e são eles: 

Igor Gabrichi Ferreira de Figueiredo (foto 1 esq.), 30 anos, empresário, proprietário da Italian Box localizada no bairro da Barra Funda em São Paulo-SP, fundada há 2 anos. Antes, trabalhou em uma empresa especializada em transmissão. Milton Rosalino (foto 1 centro), 43 anos, reparador, 25 anos de mercado, sempre trabalhou em oficina independente, especialista em motor e injeção eletrônica. Está na Italian Box desde a inauguração. Carlos Roberto Araújo Ferreira (foto 1 dir.), 46 anos, reparador, 30 anos no setor, especialista em suspensão, freio e alinhamento. Está na empresa desde o início.

Sílvio Gregio Neto, empresário, 60 anos, 53 anos de experiência no segmento automotivo. Na empresa Revisa Car Service, localizada em Jundiaí-SP, ele comanda um entrosado time de experientes reparadores, e cada um deles tem autonomia total para começar, executar e finalizar o processo de atendimento, e Sílvio explica: “oferecemos a estrutura, os equipamentos, treinamento, capacitação e orientação constante. Cada profissional administra a sua carteira de clientes, e quanto maior a sua eficiência, maior o seu ganho. ” Da esquerda para a direita (foto 2), Sílvio Gregio Neto, Sérgio Henrique Losilla, 50 anos e 36 anos de experiência; Danilo de Lima Gonçalves, 23 anos e 9 anos do segmento; André Pereira e Silva, 19 anos e 5 anos no setor; Adriano Altomuni, 42 anos e 28 anos de experiência; e Sílvio Gregio Júnior, 35 anos, administrador de empresas, e há 5 anos na Revisa no setor administrativo.

Paulo César Kazlauskas (foto 3), 45 anos, empresário, técnico em mecânica, desde os 16 no segmento. A sua empresa, Tecnocar Auto Service, localizado no bairro da Vila Zelina em São Paulo-SP,  foi inaugurada em abril de 1993, e conta com mais dois irmãos na sociedade.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Igor aprovou o acabamento interno e os itens de segurança, conforto e comodidade. Milton considera que a versão com transmissão mecânica é interessante, mas a versão automática faz falta. Constatou ainda que é preciso aprimorar a equalização da pressão interna no habitáculo, pois quando se tenta fechar as portas com todos os vidros fechados, forma-se um bolsão de ar que dificulta o travamento correto da última porta.
Paulo se surpreendeu positivamente com a ótima posição para dirigir. Mesmo com os seus 2,00m de altura, encontrou uma posição confortável para dirigir, com bons espaços para pernas, braços e altura livre da cabeça para o teto, e uma boa visibilidade.
Sérgio notou que o carro é mais longo que o SUV Duster, e em números, a picape tem um entre-eixos 155 mm maior, e no comprimento são 364 mm a mais, sem contar a possibilidade de utilizar a tampa da caçamba aberta como extensão para cargas.

DIRIGINDO A DUSTER OROCH
Carlos aprovou o desempenho do motor 2.0, e comenta:  “o assistente de trocas de marchas é bem interessante, e ajuda na economia. No modo ECO, o carro fica um pouco amarrado, mas é válido para poupar combustível. No modo normal, melhora bem a aceleração e torque de saída. É um carro confortável para uso urbano. A suspensão dele é firme e macia ao mesmo tempo, e absorve bem as imperfeições do piso, sem fazer muito barulho.”
Paulo também aprova o bom desempenho e dirigibilidade: “este motor 2.0 tem um torque bem legal, mesmo retomando em rotações baixas. O nível de ruído interno, mesmo quando o motor sobe de giro, é bom e confortável.”
Sérgio foi o único entrevistado que pode testar o carro na estrada, e registrou: “os dois modos de condução, normal e ECO, indicador de troca de marchas e a transmissão de 6 velocidades oferecem opções para aqueles que querem economizar combustível, ou para aqueles que gostam de uma tocada mais esportiva. O piloto automático e o limitador de velocidade atuam de forma bem eficiente. Outro ponto muito positivo é a estabilidade, e parece melhor do que no SUV Duster, pelo entre-eixos maior, e pela nova suspensão traseira. No volante, nem parece uma picape. O torque disponível é muito bom, com acelerações e retomadas bem interessantes, e nas frenagens de emergência, o ABS/EBD atua com muita eficiência e suavidade”.

MOTOR
O conhecido motor Renault 2.0 16 V Flex (foto 4) gera potência de 148/143 cv (E/G) a 5.750 rpm e torque de 20.9/20.2 (E/G) kgfm a 4.000 rpm. A velocidade máxima segundo o fabricante é de 186/178 (E/G) km/h e a aceleração de zero a 100 km/h é de 10.0/10.3 (E/G) seg.

Milton comenta: “já trabalhamos normalmente na manutenção do motor Renault 2.0 , e consideramos fácil de manusear. A troca do filtro de óleo (foto 5) é um pouco complicada, e não é recomendável fazer com o motor quente. Outra boa providência é remover o protetor do cárter para evitar respingos de óleo (foto 6). Nos modelos mais antigos da Renault como Clio e Scenic, enfrentamos problemas na injeção eletrônica, pois muitas vezes no scanner acusa código reservado, e aí precisamos recorrer à concessionária, que normalmente barra a informação, ou recorremos aos reparadores amigos que já enfrentaram esta situação.”
Paulo e Sérgio observam: “mudaram a posição do corpo de borboleta para a lateral, e melhorou muito o acesso para manutenção neste componente. O comando é por correia dentada, e a capa metálica que protege a parte superior tem a função de fixação do coxim do motor. A troca de velas e bobinas individuais é tranquila, feita pela parte de cima (foto 7). Já os injetores, é preciso remover o coletor de admissão para acessá-los. A troca do filtro de ar (foto 8) é bem simples e prática”.

TRANSMISSÃO
Todos consideram a manutenção na caixa de transmissão tranquila, com amplos espaços para o manuseio (foto 9). A troca de óleo também é fácil, com boa localização do dreno. Na troca da embreagem, recomenda-se remover o agregado e descer o câmbio.
Outro item importante, elogiado por todos, é a opção pelo uso da tulipa no semi-eixo da transmissão (foto 10), pois os modelos Renault que utilizam a junta deslizante e são lubrificados pelo óleo da transmissão são muito vulneráveis, e causam muitos problemas.

FREIO, SUSPENSÃO E DIREÇÃO
Carlos avalia: “na parte de suspensão e freio de veículos Renault, nunca tive maiores problemas. Ainda não mexemos com o Duster aqui na Italian Box, mas pelo que observei na Oroch, será bem tranquilo. Mas já localizamos um problema aqui: tem um princípio de vazamento na caixa de direção (foto 11). Isto mostra a importância das revisões periódicas. Ainda é pequeno e deve ser de simples solução, mas se deixar muito tempo, o problema pode se agravar”.
Paulo aprova uma novidade e comenta: “a suspensão traseira multlink (foto 12) é bem diferente da utilizado no Duster, que é eixo rígido. A manutenção dos itens undercar é bem tranquila. Só os amortecedores traseiros vão dar um pouco de trabalho, pois é preciso remover o protetor de caçamba. Interessante que a estrutura está preparada para receber tração 4x4”.Sérgio e sua equipe avaliam que na suspensão dianteira do tipo McPherson (foto 13), não há nenhuma novidade e as rotinas de manutenção são bem tranquilas, e comentam: “a suspensão traseira multlink é bem interessante, com um desenho diferenciado e componentes mais leves que o tradicional eixo rígido. Isso representa economia de material e de consumo, e facilita as rotinas de manutenção. Essa suspensão também explica por que a traseira pula bem menos do que as picapes que usam feixe de mola na traseira. Na parte de alinhamento traseiro, há os parafusos próprios para acerto da convergência.”

OUTROS ITENS
O conector OBD, dentro do porta-luvas, tem fácil acesso (foto 14). E atrás do porta-luvas, encontra-se o filtro de cabine, que exige uma certa manobra, pois a própria caixa do porta-luvas interfere no curso do filtro.
Milton mostra o bom acesso para bomba de combustível, sob o assento traseiro (foto 15), e Paulo elogia a facilidade de acesso para troca do filtro de combustível (foto 16), que fica bem protegido.


INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Igor e Paulo não contam muito com a Renault e seus concessionários para obter informações técnicas, e recorrem aos equipamentos de diagnóstico, literaturas técnicas do setor, fabricantes de componentes, internet, Fórum Oficina Brasil e Sindirepa, entre outras fontes.
Sílvio faz uma importante observação: “a Renault precisa ajudar mais os reparadores independentes na disponibilização de informações, e a participação das concessionárias neste processo é fundamental. Eu já fui gerente de serviços e peças de uma concessionária VW, e fazia questão de visitar as oficinas cadastradas, oferecer suporte técnico, treinamento, ferramental, afinal, eles eram nossos parceiros no mercado para prestarem um bom atendimento aos clientes da marca, e aplicarem as peças originais. Com este suporte técnico às oficinas da região, formamos uma parceria de muito sucesso, e hoje as principais montadoras já adotam esta prática junto às oficinas. Espero que a Renault enxergue isso rapidamente, pois para quem quer se consolidar no mercado, é um contrassenso dificultar o acesso às informações técnicas de seus produtos.

PEÇAS DE REPOSIÇÃO

Os reparadores entrevistados priorizam o atendimento rápido ao cliente, e por essa razão compram a maior parte dos itens fora da rede concessionária, conforme os depoimentos abaixo:

Igor: “nem sempre encontramos as peças para pronta-entrega na concessionária, mas eles nos indicam qual unidade mais próxima tem a peça. No geral, o atendimento é cordial, mas os distribuidores são muito mais ágeis e os preços mais acessíveis”.

Paulo: “a concessionária Renault tem apenas os itens de alto giro para pronta entrega, e os demais só por encomenda, e por essa razão o nosso mix de compra fica em 85% no Distribuidor (preço e qualidade); 10% na Concessionária (peças cativas); e 5% no Varejo”.

Sérgio: “as concessionárias Renault da região (Jundiaí-SP), tem apenas o trivial. A maioria dos itens, só por encomenda, e isso significa imobilizar o carro de 5 a 7 dias esperando pela peça, o que é muito ruim para o cliente e para a oficina. Se a concessionária não consegue manter o estoque, o CD da Montadora precisaria ser mais ágil e reduzir este tempo de entrega.”

Silvio: “aqui na Revisa, nosso foco principal são as manutenções preventivas. Isso significa que o carro que chega de manhã precisa sair até o final da tarde. Para que isto aconteça, a parceria com os Distribuidores é fundamental, pois eles estão atentos à nossa necessidade, e praticam uma entrega ‘just in time’, muito rápida! Já o concessionário não tem esta visão, salvo honrosas exceções, e acabam perdendo oportunidades de negócio. Eu falo isso com propriedade, pois quando era gerente de peças em uma concessionária VW, mantinha uma boa variedade de itens, e a logística de entrega era muito eficiente. As concessionárias precisam enxergar os reparadores como parceiros estratégicos de negócios, e entender as suas demandas. Todos saem ganhando, desde o cliente Renault bem atendido, a oficina realizando o serviço com qualidade e rapidez, e a concessionária vendendo peças genuínas. Esse é o caminho. Atualmente nosso mix de compra de peças fica em 60% no Distribuidor e 40% na concessionária”. 

RECOMENDAÇÃO
Na hora de comprar um carro novo, nada melhor do que consultar um experiente reparador. Acompanhe a avaliação dos nossos entrevistados sobre a Oroch:

Igor: “a Oroch se posiciona bem entre as picapes pequenas e médias, e oferece um bom pacote. Na Italian Box, não enxergamos maiores problemas na reparabilidade, e a disponibilidade de peças é boa, salvo algum item muito específico. É um ‘SUV com caçamba’, e deve atender um bom público em busca de praticidade e lazer.”

Paulo: “cada cliente tem o seu gosto, mas nós reparadores sabemos o que é bom e o que é ruim. Para algumas marcas, já alertamos os clientes sobre problemas de projeto, falta de peças de reposição no mercado, garantias problemáticas, ou ausência de informações técnicas. E nesses casos, o cliente nos solicita opções alternativas. A linha Renault é relativamente tranquila, um carro previsível e sem maiores surpresas. Para uso misto, considero a Oroch uma boa opção. Atualmente, o cliente troca menos de carro, e isso é bom para nós reparadores.”

Sílvio: “assim como as pessoas consultam um médico ou um advogado, os nossos técnicos aqui também são consultados quando o assunto é carro. E a impressão que o reparador tem sobre uma determinado modelo é essencial, e vai influenciar diretamente a escolha do cliente na hora da troca, seja por um novo ou usado. Se a oficina enfrenta problemas para localizar as peças, conseguir informações técnicas, ou se deparar com  problemas recorrentes, isso vai maculando a imagem do carro. E para reforçar, aqui na Revisa temos todo o histórico do carro para analisar ao longo do tempo a sua reparabilidade. O Renault Duster (SUV) é recomendável, e tem um bom histórico, mas poderia ser melhor. A Renault precisa estreitar o relacionamento com os reparadores independentes, pois somos sim formadores de opinião, e não por acaso, marcas líderes de mercado são as que mais oferecem informações e apoio às oficinas”.

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