Oficina Brasil


JAC J6 apresenta mecânica simples e de fácil reparabilidade, conquistando o reparador

Bem avaliado nas oficinas de reparação independente, veículos da JAC vão quebrando aos poucos o paradigma de que produto chinês é ruim. Porém, preocupação ainda se concentra na disponibilidade de peças e informações técnicas

Compartilhe
Por FERNANDO NACCARI E PAULO HANDA


Avaliação da Matéria

Faça a sua avaliação

A bordo de um J6 tivemos boas experiências, como o conforto oferecido no interior: é excelente e os comandos ficam sempre “à mão”, demonstrando que a engenharia chinesa pensou bem em ergonomia em seu projeto.

O motor 2.0 16V fornece 136cv a 5.500rpm. Na prática, carregar os 1.500kg que o J6 possui não é tarefa simples, mas o propulsor apresenta bom desempenho, já que seu comando de válvulas variável desempenha seu papel muito bem tanto em baixas rotações, quanto em altas rotações, como é de se esperar da tecnologia. Mas, o ponto negativo fica para o escalonamento longo das marchas, pois isso faz com que tenhamos que esticar muito as marchas quando necessitamos de mais potência em ultrapassagens ou em subidas íngremes, por exemplo.

Talvez a ideia deste escalonamento fosse privilegiar o consumo de combustível, mas isso só se comprova em trajetos urbanos, onde este ficou em 8,4km/l. Porém, quando colocamos o J6 na estrada, duas situações se apresentaram: quando o trecho era de apenas retas o consumo ficava em 9,7km/l, mas quando pegamos outro trecho de subidas de serra, este caiu abruptamente para aproximadamente 5,7km/l.

O conforto oferecido pelo conjunto de suspensão do modelo é muito bom. Claro que não é perfeito, pois a suspensão se apresenta um pouco mais mole do que o que estamos acostumados com demais veículos desta categoria, mas não é nada que não nos acostumemos com alguns quilômetros de rodagem e nada que influa na dirigibilidade do veículo.

Tendo ainda pouco tempo no mercado nacional e por ser de uma marca menos conhecida em âmbito mundial, vemos que ainda há muita desconfiança quanto à compra de veículos vindos do mercado chinês, mas a cada modelo que avaliamos, notamos que isto é puro preconceito, pois a bordo de um JAC, pouco se nota a diferença na qualidade geral do veículo quando o comparamos com outros veículos oferecidos em nosso mercado e de marcas já firmadas em nosso país como Volkswagen, Chevrolet, Ford, Honda, Toyota e afins.

O J6 é mais um caso típico daqueles que nós ouvimos a seguinte frase: “Hum! se não fosse chinês eu comprava mesmo”. Bom! ouvi essa frase, no mínimo, umas três vezes no período em que avaliamos o veículo (10 dias): em uma oportunidade em um posto de gasolina, em outra, parado em um semáforo e a última em um estacionamento.

Mas, qual o motivo de acreditarmos que o produto chinês tem tão pouca qualidade assim? Acredito que este estigma é carregado conosco já há muito tempo, quando visitávamos as saudosas lojinhas de R$ 1,99 (hoje quase nada sai por esse preço) ou na nacionalmente famosa Rua 25 de Março, de São Paulo-SP, onde encontrávamos de tudo, onde a maioria dos produtos eram importados da China, mas quando comprávamos, sabíamos que durabilidade não seria o forte, já que o preço era baixo demais para o que estávamos acostumados.

Em algumas oportunidades isso se confirmava, onde em muitos casos, quando chegávamos em casa o produto nem funcionava mas, em outros, os produtos estão íntegros e funcionam bem até hoje. Isso demonstrava que tínhamos que ter sorte e que, controle de qualidade, não era o forte dos chineses.

Para todos esses produtos erámos até relapsos, pois como o preço era muito abaixo da concorrência, valia o risco da tentativa, se funcionasse seria ótimo, mas se desse algo errado, também não influenciava em quase nada. Isso não se repetia no caso das peças chinesas que de bom só tinham o preço, porém, o retrabalho que tínhamos associado à recorrentes falhas das mesmas, nos deixaram “com um pé atrás” quando o assunto é produtos provenientes desse mercado.

Mas com carros sempre tivemos os nossos critérios próprios e, como um torcedor apaixonado, defendemos a marca favorita como o time do coração! Nada abala esse amor e essa confiança embutida naquele produto. Podem vir recall e defeitos diversos, mas nada abala esse amor.

Claro, tudo isso pensando com a cabeça apenas de consumidor, pois nós reparadores temos muito mais critério na hora de indicar um veículo a um cliente ou comprar o nosso, pois um veículo de difícil reparabilidade e com escassa disponibilidade de peças no mercado, para nós, é um veículo longe de ser comprado ou recomendado, a não ser que a gente goste bastante de aventuras.

NA OFICINA

Na Navega, oficina localizada no bairro de Moema, na capital de São Paulo, levamos o J6 para ser avaliado. Durante essa análise, fica evidente a preocupação da montadora sobre a qualidade de seus produtos. Com manutenção fácil e bom espaço para trabalhar, o J6 não surpreenderá negativamente o reparador quando chegar em sua oficina, já que o projeto do veículo parece ter sido pensado para a reparação.

Para esta avaliação, contamos com a colaboração do reparador Pedro Alexandrino Rodrigues (FOTO 1), que possui 25 anos de experiência e há mais de 10 anos trabalha com a manutenção de veículos multimarcas. Ele nos contou, surpreendido, que o carro apresenta características únicas tanto em acabamento estético, quanto na parte mecânica.

Foto 1

“Andei com o veículo e fica nítida a estabilidade e conforto que ele oferece tanto ao condutor quanto aos passageiros. É um carro gostoso de dirigir, pois você fica o tempo todo com o carro na mão”, observou Pedro.

Outro ponto positivo notado por Pedro foi a facilidade de acesso a troca de peças no veículo: “O cofre do motor oferece espaços generosos (FOTO 2) para trabalhar, não tendo a necessidade de retirar muitas peças para ter acesso a componentes como válvulas, correias, bicos injetores, velas e etc. Isso mostra que os veículos da JAC são pensados para a reparação, enquanto em muitas outras montadoras, notamos que os veículos são apenas construídos pensando em custos aí, quando chega a hora do reparo, necessitamos desmontar diversas peças até chegar aonde queremos”.

Foto 2

Outro ponto destacado por Pedro, ainda na área de facilidade de acesso, são os parafusos do coletor de admissão e o corpo de borboleta: “Em alguns modelos de outras marcas, estas peças costumam ficar posicionadas em locais de difícil acesso, porém no J6 isso não acontece. A utilização de ferramentas é tranquila, pois não há a  obstrução destes por outros componentes”.

Pedro ainda sugeriu: “Em veículos chineses de outras marcas, quando estes eram submetidos à inspeção veicular de gases, costumeiramente estes não eram aprovados, portanto acho bom testarmos o desempenho do J6 neste teste”.

Como gostaríamos de pôr à prova este JAC, montamos o aparato todo e realizamos a inspeção de gases com o veículo, e o resultado você pode ver na foto 3 e no que disse Pedro: “Nossa, os resultados deram muito baixos. Em questão ambiental este carro é ótimo!”.

Foto 3 

Em questão de tecnologias, podemos dizer que o JAC J6 é tão simples que chega a ser antiquado. Porém, isso traz benefícios ao reparador que não encontra dificuldades em executar os reparos: “O veículo conta com sistema de cabos para o acionamento do corpo de borboleta (acelerador à cabo) (FOTO 4), fugindo da tendência das demais montadoras que utilização o “drive by wire” que costumam ser mais problemáticos e de difícil reparo.

O controle do fluxo de ar admitido pelo motor é feito através do convencional sistema “speed density”. Neste, é feita a relação entre sensor de temperatura do ar e o sensor de pressão do coletor de admissão (FOTO 5) para que seja definida a quantidade de massa de ar que chega ao motor.

Foto 4, Foto 5 e Foto 6

Outro componente de fácil acesso é o filtro de óleo: “Ele fica em posição de fácil acesso na parte inferior esquerda do bloco (FOTOS 6 e 6A), fazendo com que o reparador fique confortável e com bastante espaço para realizar a troca do componente”, disse Pedro.

“O filtro de combustível (FOTO 7) também possui fácil acesso na parte inferior do lado esquerdo próximo ao tanque de combustível do veículo”, completou Pedro.

Porém, o grande ‘complicador’ da reparação tanto do JAC, quanto dos demais veículos importados da China, é a impossibilidade de utilizar equipamentos de diagnóstico para a leitura de falhas nos sistemas de injeção. Segundo Pedro, só há uma alternativa: “Os scanners atuais com a função de OBD II genérico (FOTO 8), são capazes de efetuar leituras simples no sistema. Dessa forma, se um veículo desses entrar em minha oficina consigo fazer algumas leituras básicas, porém algo mais aprofundado não conseguirei fazer”.

Foto 6A, Foto 7 e Foto 8

O sistema de arrefecimento possui ainda outra particularidade: “Neste motor, o reservatório de expansão é incorporado ao radiador (FOTO 9), semelhante a diversos modelos antigos do mercado nacional, como eram nos Opala e Caravan”, comentou Pedro.

Ainda falando no arrefecimento, Pedro ressaltou a importância da utilização do fluido de arrefecimento correto no sistema: “Aconselho a verificar o que é recomendado pela fabricante. Algumas fabricantes recomendam a utilização do etileno glicol diluído em proporção 60-40 (aditivo-água), outras 50-50. Outras ainda não recomendam que seja diluído o produto e indicam a compra do produto já na diluição correta. Dessa forma, não podemos bobear neste quesito, pois isso afeta diretamente a vida útil do motor do veículo”.

“O J6 é equipado com uma caixa de câmbio manual de 5 marchas (FOTO 10). Ela é instalada distante do quadro da suspensão, o que facilita muito o processo de remoção deste componente sem ter que intervir ou afastar o quadro, além de oferecer acesso amplo para o reparador trabalhar”, afirmou Pedro.

Pedro fez uma ressalva: “Um veículo desta categoria deveria sair de fábrica com opção de câmbio automático, mas acredito que a montadora optou pelo câmbio manual por conta da estratégia de redução de custos de importação. Mas que um câmbio automático cairia bem, isso ia”.

Neste sistema de transmissão, os semieixos não fogem do padrão visto em veículos de porte semelhante, sendo fixado por pressão e com simples desmontagem e instalação (FOTO 11).

Foto 10 e Foto 11

A suspensão traseira é do tipo semi-independente (FOTO 12) e não trará muitas dificuldades ao reparador: “Se trata de um sistema muito conhecido nas oficinas. em alguns modelos nacionais da mesma categoria é necessário desmontar muitos componentes para ter acesso a troca de buchas, neste não. É muito simples”, opinou Pedro.

Ainda falando no sistema de suspensão traseira, Pedro comentou: “Neste veículo há a possibilidade de regulagem do ângulo de convergência (FOTO 13) que na minha opinião, faz com que o conjunto fique mais firme e eficiente”.

Foto 12 e Foto 13

Para realizar a troca dos amortecedores traseiros, é necessária a remoção da tampa plástica (FOTO 14) que fica fixa na parte interna lateral do veículo, ao lado do encosto do banco traseiro. Segundo Pedro, este é um trabalho simples, porém maçante, mas este não é o maior problema: “Com o tempo, esta peça resseca e no momento em que é removida acaba ou não encaixando mais ou quebrando. Isso acaba passando uma imagem errada ao cliente, que pensa que foi o reparador quem danificou a peça”. 

Ponto negativo vai para a posição do estepe (FOTO 15): “Ele fica localizado na parte inferior do veículo, logo abaixo do porta-malas. Além de ficar exposto, o que atualmente é um convite para qualquer ladrão, ele ainda deve ser calibrado constantemente, pois caso o pneu fique murcho haverá contato direto da roda de ferro com o suporte no veículo, gerando um barulho muito grande”.

Foto 14 e Foto 15

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Sobre o acesso às informações técnicas para os reparos dos veículos da marca, Pedro comentou: “Isso realmente, até o momento, não existe. A marca trabalha com um período de garantia de 6 anos para seus veículos e, devido a esse fato, não libera as informações técnicas”.

Pedro acrescentou: “Porém, isso na prática não funciona. Sabemos que não são todos os clientes que optam por levar o veículo a todas as revisões e, ainda mais, hoje em dia quem fica com um veículo por mais de três anos? O segundo cliente não levará mais o veículo às concessionárias. Assim, necessitamos de informação técnica e equipamentos para trabalhar com estes veículos, pois do contrário, com certeza não atingirão o mercado que deveriam, pois o produto em si é ótimo, mas sem informações técnicas fica difícil. As montadoras não entenderam ainda que, se nós reparadores, tivermos dificuldade em realizar a manutenção devido a falta de material, com certeza esse problema será repassado ao proprietário do veículo. Isso com certeza é um fator preponderante na decisão de comprar ou não comprar um veículo daquela determinada marca”.

Para diminuir essa falta de informações partilhadas com os reparadores independentes, fato que não é exclusividade da JAC Motors, Pedro comentou: “O mais correto de nossa parte é buscar informações em entidades de nossa classe, como o Sindirepa, por exemplo. Outra fonte rica é acessar fóruns como o do Jornal Oficina Brasil, onde reparadores se ajudam trocando ricas informações e colaboram com a solução dos casos. Se nós não nos ajudarmos, dificilmente conseguiremos a ajuda das montadoras”.

DISPONIBILIDADE DE PEÇAS

Para Pedro este é outro grande problema no reparo destes veículos: “Eles estão há poucos anos no mercado nacional, quando comparamos às montadoras mais tradicionais em nosso país. Por conta disso, o abastecimento de peças genuínas é muito limitado. Em determinadas regiões do país, como já interagi com outros reparadores no fórum do Jornal Oficina Brasil, a espera chega a ser de algumas semanas, ou até mais”.

“Outra dificuldade é que também não há disponibilidade de peças paralelas para modelos da marca. Assim, ficamos presos à disponibilidade de peças nas concessionárias e, como já sabemos na prática, é bastante complicado”.

VALE A PENA REPARAR?

Sobre o prisma da dificuldade de reparação, não só o J6, mas toda a linha JAC possui manutenção bastante simples, pois possuem soluções construtivas que permitem que o reparador não necessite realizar a desmontagem de diversos componentes para chegar até aquele que deseja. Mas não somente isso, inclusive algumas tecnologias já tidas como ultrapassadas em veículos de outras montadoras, como o acelerador e embreagem comandados à cabo, por exemplo, estão presentes nos modelos da marca. Por um lado, mostra que a marca ainda tem muito a evoluir, porém por outro, facilita o reparo nas oficinas independentes, pois a manutenção destes tipos de componentes é bem fácil. Isso equilibra a falta de informação de técnica, pois reparar um veículo que possui poucos segredos, é bem mais fácil do que um carregado de tecnologia embarcada. Porém, é bom reforçar que o diagnóstico através de scanner é um ponto negativo, pois os equipamentos comercializados em nosso país ainda não são capazes de realizar leituras completas em veículos chineses. Dessa forma, só teremos a medida correta do quanto será dificultada a vida do reparador independente quando estes veículos começarem a visitar com relativa frequência as oficinas. Assim, quando faltarem peças e informações técnicas, as dificuldades e problemas aumentarão em escala exponencial.

Portanto, reparar um JAC não é tarefa complicada, desde que os reparadores tenham em mãos as ferramentas de que necessitam: peças e informações técnicas. Assim, quando este cenário mudar e o reparador independente as tiver, ter ou reparar um JAC será só alegria.

Comentários