Oficina Brasil


Equipamentos para diagnóstico: A tecnologia equiparando Reparadores automotivos e Médicos

Você sabe o que é “endoscopia” automotiva? Já viu um estetoscópio automotivo? Pois é! Esses equipamentos e muitos outros existem e já fazem parte do dia a dia das oficinas mecânicas especializadas

Compartilhe
Por Tenório Júnior


Avaliação da Matéria

Faça a sua avaliação

No início da minha carreira profissional não havia muitos recursos em termos de ferramentas para auxiliar no diagnóstico de defeitos, mas, para ser sincero, nem precisava. Os carros daquela época (1980) possuíam mecânica muito simples, com poucos recursos e mínima técnica já era possível efetuar os reparos necessários.

À medida que os carros foram evoluindo, cresceu a necessidade de conhecimento técnico e equipamentos para realizar diagnósticos de defeitos mecânicos, elétricos e eletrônicos e, a indústria de ferramentas e equipamentos desde então vem desenvolvendo dispositivos que auxiliam o Reparador em diagnósticos cada vez mais complexos.

Hoje dispomos de equipamentos de uso automotivo que se assemelham aos de uso clínico, utilizados em diagnóstico de doenças em humanos.

Nesta matéria farei uma breve analogia entre esses equipamentos para demonstrar quão evoluídos estamos no quesito “Diagnóstico de defeitos automotivos”.

Endoscópio / Boroscópio

No corpo humano quando há algum desconforto ou dor no estômago ou região abdominal, é normal que se vá ao médico para fazer exames que indiquem a causa; nesse caso, principalmente quando há suspeita de doença no aparelho digestivo, o exame indicado inicialmente, é a endoscopia.

A endoscopia digestiva alta (EDA), mais conhecida como “endoscopia” (foto 02), é um exame que tem como objetivo diagnosticar e tratar algumas das doenças mais comuns do sistema digestivo superior. É realizada por um aparelho chamado endoscópio (foto 03); composto por um longo e fino tubo flexível, que possui uma câmera na sua extremidade, permitindo que o interior dos órgãos digestivos seja filmado. Os endoscópios atuais têm alta definição de imagem e podem filmar em HDTV.

Esse tipo de exame é solicitado pelo médico quando o paciente apresenta sintomas como: dor abdominal, náusea, vômitos, queimação, refluxo e dificuldade para engolir; além de detectar gastrite, úlcera e locais de sangramento interno.

No motor do carro também é possível visualizar as partes internas, ou de difícil acesso visual, por intermédio de uma microcâmera e um visor que pode ser do computador, do celular ou do próprio aparelho de endoscopia automotiva, o “Boroscópio” (fotos 01 e 04).

Esse tipo de teste é realizado quando o motor apresenta problemas de funcionamento, tais como: marcha lenta irregular, falha de um ou mais cilindros em marcha lenta, perda de potência, alto consumo etc. Nesses casos, o motivo da realização da “endoscopia” é a suspeita de carbonização na câmara de combustão, válvulas do cabeçote, topo dos pistões e formação de borra no sistema de lubrificação. Além disso, o exame pode ser útil para diagnosticar possíveis obstruções nos dutos do sistema de arrefecimento.

Existem dois tipos de endoscópios automotivos: um com tela própria para a visualização das imagens captadas e o outro que permite a visualização na tela do computador ou mesmo no celular (foto 05), ambos filmam e tiram fotos.

Eletroencefalograma / Scanner Automotivo

Outro exame muito utilizado na medicina é o Eletroencefalograma (EEG); é um exame não invasivo que analisa a atividade espontânea cerebral, captada através de eletrodos colocados sobre o couro cabeludo. O objetivo desse exame é obter registro da atividade elétrica cerebral para o diagnóstico de eventuais anormalidades. É indicado quando há suspeita clínica de epilepsia; pacientes com alteração da consciência; avaliação diagnóstica de pacientes com outras doenças neurológicas (infecciosas, degenerativas) e psiquiátricas. O exame é simples, indolor, sem contraindicações e pode ser feito em qualquer idade. Porém, se o paciente tiver lesões presentes no couro cabeludo, tais como: dermatite; seborreia intensa; infecções ou grandes ferimentos, estas podem tornar o exame difícil ou impraticável.

O eletroencefalograma é utilizado como primeira opção como exame para diagnóstico de tumores, acidente vascular cerebral (AVC) e outros distúrbios cerebrais.

No automóvel, o que se assemelha ao cérebro é a central eletrônica da injeção eletrônica (ECU) e o aparelho que faz a avaliação diagnóstica desse “cérebro eletrônico” é o scanner automotivo. Por intermédio desse sofisticado equipamento é possível visualizar os valores informados pelos diversos sensores e atuadores que monitoram o funcionamento do motor e suas variáveis. Com base nos parâmetros de referência previamente estabelecidos pelos fabricantes dos sistemas é possível identificar se há alguma anomalia no funcionamento do motor, em algum sensor ou em algum atuador do sistema de injeção eletrônica; esse trabalho é muito mais que “passar o scanner”, é um autêntico “diagnóstico de falha do sistema de injeção eletrônica”.

Em tempo – Na matéria anterior, publicada em julho de 2017, esse assunto foi abordado de forma detalhada com o objetivo de esclarecer e tornar palpável o valor desse trabalho.

Termômetros

A temperatura no corpo humano é algo que deve ser monitorado de forma rigorosa quando há evidências de que alguma coisa no organismo não está bem. Para tanto, utilizamos o termômetro. Sim! Aquele que se coloca embaixo do braço quando há suspeita, principalmente de febre (foto 06). Um instrumento simples que tem grande utilidade.Foto 6

Atentos à grande utilidade desse pequeno objeto, os fabricantes de ferramentas automotivas incluíram o termômetro a laser digital (foto 07) para auxiliar no diagnóstico de problemas no sistema de arrefecimento, ar-condicionado, catalisador etc.

O termômetro a laser automotivo é uma ferramenta importante para diagnóstico de defeitos no sistema de arrefecimento. Com esse equipamento é possível identificar a real temperatura do motor e as diferenças de temperatura entre o motor e radiador. Foto 7

Outros defeitos como: falha no sensor de temperatura do sistema de injeção eletrônica; bomba d’água; válvula termostática e radiador, também são detectáveis com o auxílio desse instrumento.

Saiba mais sobre a importância do controle de temperatura, na matéria publicada em maio de 2017 “Febre e Hipotermia”.

Microscópio

Biópsia é a remoção de uma pequena quantidade de tecido de algum órgão humano ou animal para avaliação anatomopatológica da presença (ou não) de câncer. A amostra removida durante a biópsia é analisada por um patologista, médico especializado na interpretação de exames laboratoriais e avaliação de células, tecidos e órgãos para diagnosticar a doença. Um aparelho que é muito utilizado para esse tipo de exame é o microscópio (foto 08).Foto 8

A “Biópsia automotiva” é a análise técnica minuciosa que investiga a origem de um problema apresentado em determinada peça, como essa correia dentada (foto 09) que quebrou aos 5.000 km rodados (Matéria publicada em junho de 2015 na Avaliação do Reparador Renault Megane). http://www.oficinabrasil.com.br/noticia/avaliacao-do-reparador/erro-na-instalacao-da-correia-dentada-provoca-quebra-apos-5-mil-km-saiba-como-evitar-esse-transtorno.

A partir da peça avariada, é possível emitir um laudo técnico com as causas da ocorrência.

Esse trabalho é extremamente importante porque o laudo técnico irá revelar se foi um problema provocado por mau uso, se houve a intervenção de algum agente externo capaz de provoFoto 9car a avaria constatada ou se o problema é um “vício” da peça, ou seja, defeito de fabricação.

Se for constatado vício da peça, na maioria dos casos, através de identificações gravadas na própria é possível identificar a máquina, a ferramenta da máquina, o dia, a hora e o operador responsável pela fabricação daquela peça específica.

Estetoscópio

É um instrumento utilizado por profissionais da área da saúde para ausculta (termo técnico correspondente a escutar) de qualquer som vascular, respiratório ou de outra natureza em qualquer região do corpo (foto 10).

Com a ajuda do estetoscópio, o profissional pode auscultar o som do coração e também dos pulmões; um ouvido bem treinado e com bastante experiência pode gerar diagnósticos diversificados com base nos sons emitidos pelo corpo humano. A utilização do estetoscópio é livre, trata-se de um aparelho que pode ser comprado por qualquer um, porém, a maior utilização com certeza é na área médica, por profissionais como enfermeiros, médicos e fisioterapeutas.

Os estetoscópios, na área de saúde, amplificam entre muitos sons corporais, principalmente os:

• Ruídos Hidroaéreos;

• Ruídos Adventícios;

• Bulhas Cardíacas.

Na área automotiva há um aparelho semelhante, é o “Estetoscópio automotivo” (foto 11). Ele possui uma “haste” longa e pontiaguda capaz de alcançar algumas peças que estão em locais de difícil acesso. A eficácia desse aparelho, assim como na área da saúde, depende muito da experiência do técnico que opera o aparelho.

Com esse instrumento é possível identificar ruídos nos rolamentos do alternador, na bomba d’água, tensionadores das correias e ruídos oriundos da suspensão.

Além do estetoscópio “mecânico” há o eletrônico (foto 12), que é um instrumento sensível de alta qualidade que permite a determinação de problemas inoportunos com componentes de máquinas por meio da detecção de ruídos ou vibrações da máquina com excelente qualidade sonora, o que possibilita identificar de maneira confiável a causa possível do ruído.

Esfigmomanômetro / Manômetro Automotivo

A hipertensão arterial, também chamada de pressão alta, é uma doença crônica que afeta cerca de um terço da população mundial. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, existem cerca de 13 milhões de pessoas com a doença, que atinge principalmente adultos com mais de 60 anos. Um dos fatores que têm contribuído para o aumento dos casos de hipertensão é o estilo de vida moderno, que envolve maus hábitos alimentares, sedentarismo, obesidade e estresse. Muita gente nem sabe que tem a doença, até que ela provoque lesões nos órgãos vitais como o coração, os rins e no cérebro. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a pressão alta é uma das principais causas de infarto do miocárdio, insuficiência renal e AVC (Acidente Vascular Cerebral).

No outro polo, está a Hipotensão, que é a pressão baixa – indicativo de que não há sangue suficiente fluindo para o cérebro e outros órgãos vitais.

O aparelho mais usado para medir a pressão arterial é o Esfigmomanômetro (foto 13).

Manômetro de pressão de combustível (foto 14) é um equipamento utilizado para diagnóstico de falhas no sistema de injeção eletrônica, essencial para medir pressão da bomba de combustível e a estanqueidade da linha de pressão.

Medidor de vazamentos de cilindros (foto 15) é um equipamento utilizado para verificar se há vazamentos na câmara de combustão.

Esses testes são realizados para o diagnóstico de defeitos relacionados a: perda de potência; falhas no sistema de injeção eletrônica; consumo excessivo de combustível; emissão excessiva de gases poluentes e ainda detectar problemas no sistema de arrefecimento.

Esteira ergométrica / Dinamômetro Automotivo

O clássico teste de esteira, também chamado de “Teste ergométrico”, geralmente é o primeiro exame a ser pedido pelos médicos para avaliar a saúde do coração. Para esse tipo de exame, é imprescindível que a pessoa seja submetida a esforços físicos em diferentes níveis, porque alguns sinais de problemas cardiovasculares só ficam evidentes quando se exige um esforço cardíaco maior, daí a importância da esteira.

Durante e após a realização do exercício físico na esteira, que sempre começa com uma caminhada leve e vai aumentando o grau de dificuldade, podendo chegar a uma corrida como se estivesse numa ladeira, o teste registra várias medidas da pressão arterial e os batimentos cardíacos, além de analisar a atividade elétrica durante cada etapa do esforço.

O objetivo é investigar a presença de sinais sugestivos de obstruções nas artérias coronárias (causadoras do temido infarto agudo do miocárdio), de anormalidades nos batimentos (como arritmias, por exemplo), de alterações na pressão arterial e de sintomas desencadeados pelo esforço, como a dor no peito. Se o coração aguenta a maior demanda exigida pelo exercício, não há motivo para preocupação.

Para os automóveis, a “esteira” é chamada de “Dinamômetro” (foto 16).

Foto 16

Trata-se de um aparelho que possui 4 pares de “rolos” nos quais ficam apoiadas as quatro rodas do carro.

Para quem nunca viu um, o dinamômetro de rolo, ou simplesmente dinamômetro, pode ser explicado como uma ferramenta de serviço formada por três componentes principais: um conjunto de rolos, sobre os quais é possível posicionar o eixo da tração do veículo e acelerá-lo sem que o carro saia do lugar; uma unidade de absorção e um sistema de indicação de torque.

Esse aparelho simula diferentes situações para analisar o comportamento de diversos sistemas do carro, tais como: potência e torque do motor; sistema de arrefecimento e de lubrificação; freios e a durabilidade de algumas peças.

O sistema de coleta é formado por sensores que captam a rotação em função do tempo, isto é, quantas rotações por minuto (rpm) são obtidas a partir do funcionamento do motor. O equipamento é capaz também de captar a carga e a força com as quais os rolos são movidos.

Por último, mas não menos importante, há o sistema de indicação de torque, o qual compila este e outros dados obtidos pelos sensores, por meio de um software instalado em um computador e indica o resultado de performance.

Desta forma é possível ter uma aferição completa do desempenho do carro, com a possibilidade de contar com o relatório completo da curva de desempenho de torque, potência e até a eficiência do sistema de arrefecimento.

Além de todos esses equipamentos, muitos outros são utilizados tanto para diagnóstico clínico quanto automotivo. Contudo, vale ressaltar que a utilidade desses instrumentos depende fundamentalmente da experiência e a perspicácia do profissional que os operam.

São eles que determinam os exames que serão executados; a sequência seguindo uma ordem lógica dos procedimentos; fazem a interpretação dos resultados obtidos com base nos sintomas e em históricos registrados, para saber qual será o “tratamento” mais eficiente e eficaz.

Enfim, como se pode perceber, a tecnologia está para a medicina, tal qual está para a reparação automotiva. E o Mecânico contemporâneo que agora classifica-se como “Reparador automotivo” está a olhos vistos mais preparado tecnicamente e cada vez mais integrado aos recursos tecnológicos para diagnósticos avançados.

Comentários