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Infarto do MioCÁRdio: A incrível semelhança entre o colesterol ruim e a formação de borra no motor

Veja nesta edição as principais causas do aumento do colesterol ruim (LDL), da formação de borra no motor e as possíveis ações preventivas que podem evitar a “morte súbita”

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Por Dr. Reparador José Tenório da Silva Junior


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Na edição anterior falei sobre a importância da prevenção para evitar problemas e aumentar a longevidade, tanto do ser humano quanto do motor do carro. Nesta, farei uma breve analogia entre infarto do miocárdio e o Entupimento Por Borra (EPB) no motor do veículo (fig. 02). Você pode ter ideia do que seja um infarto e um entupimento por borra no motor, mas provavelmente não sabe como eles ocorrem.


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Vamos começar pelo básico.  Infarto significa morte (necrose) de um tecido ou órgão por falta de suprimento sanguíneo. O infarto, ao contrário do que muitos acreditam, não ocorre apenas no coração, pode ocorrer no cérebro, pulmão ou mesmo no intestino. Infarto do miocárdio, portanto, é a necrose de uma parte do músculo cardíaco; ocorre quando uma das artérias coronárias, ou suas ramificações, sofrem uma obstrução, fazendo com que o aporte de sangue para uma determinada região do coração torne-se insuficiente. As principais causas são: alimentação inadequada que provoca o aumento do colesterol ruim (LDL) e o sedentarismo.

No motor do carro não é diferente, o EPB (Entupimento Por Borra) pode provocar desde ruídos no motor, perda de potência até a sua “morte”, que é quando o motor, literalmente, trava. As principais causas são: utilização de óleo inadequado, condições severas de uso sem troca de óleo no tempo correto, uso frequente de combustível adulterado e “sedentarismo” – veículos que quase não saem da garagem.

Ao longo do tempo os motores sofreram muitas alterações com o objetivo de aumentar a potência, reduzir o consumo e a emissão de poluentes. Neste sentido, para atender os altos níveis de exigência desses motores tornou-se imprescindível o controle de alimentação de combustível que é feito pelo sistema de injeção eletrônica e a qualidade do óleo lubrificante, que deve atender todas as exigências requeridas pelos motores e determinadas pelos fabricantes. 

“O Entupimento por Borra pode provocar desde ruídos no motor, perda de potência até a sua “morte”, que é quando o motor, literalmente, trava”.

Num passado não tão distante, havia dois ou três tipos de óleos para motores a combustão interna, hoje existem vários; cada montadora determina o tipo de óleo que é exigido pelo motor. (Verifique no manual do seu carro).

Os lubrificantes são classificados por grau de viscosidade e nível de desempenho.

O Grau de viscosidade – Refere-se basicamente à espessura e fluidez, que variam de acordo com a temperatura. Atenção! Só é possível medir a viscosidade de um lubrificante, utilizando um aparelho específico denominado Viscosímetro (fig. 03 e 04). Esse aparelho permite medir o tempo que um certo volume de líquido leva para escoar-se através de um orifício de pequeno diâmetro. Trata-se de um teste padronizado, num ambiente que tenha a temperatura constante e adequada ao teste que se deseja fazer. Portanto, aquela velha prática de “medir” a viscosidade juntando os dois dedos (fig. 05), NÃO FUNCIONA!

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Viscosidade - Classificação SAE (Sociedade dos Engenheiros Automotivos) classifica os óleos lubrificantes pela sua viscosidade, que é indicada por um número. Quanto maior este número, mais viscoso é o lubrificante, logo, maior será o tempo de escoamento. Ex.: (20w50 é mais viscoso que 5w30).

Nível de desempenho - Classificação API (Instituto Americano do Petróleo), determina o nível de desempenho do lubrificante. São pacotes de aditivos adicionados ao óleo para melhorar o desempenho em diferentes requisitos. Veja no quadro a especificação do nível de desempenho por ano de fabricação dos veículos.

A primeira letra “S” do inglês Spark (faísca), indica que o carro é movido a gasolina ou etanol e a segunda letra “N” indica o estágio da evolução da qualidade do óleo (SA, SB, SC...SL, SM E SN atual). Para motores a diesel a primeira letra é “C” e a segunda segue a mesma regra (CA, CB, CC...CJ, CL, etc.)

A classificação utilizada nos veículos atuais é a API SN - Lançada em outubro de 2010, foi concebida para proporcionar melhor proteção contra depósitos provocados pela alta temperatura nos pistões, controle de formação de borra e compatibilidade com outros óleos. A classificação API SN combina maior desempenho com maior economia de combustível, proteção do turbo-compressor, compatibilidade com sistema de controle de emissões, e proteção de motores que operam com combustíveis contendo etanol até E85 (85% etanol, 15% gasolina). 

Bem, agora que você já está mais familiarizado com os termos e o assunto, vamos à mecânica dos problemas decorrentes pela insuficiência de lubrificação.

O que acontece se colocar o óleo 20w50 quando o manual do veículo recomenda 5w30?
Pela manhã, na primeira partida do motor, o óleo precisa atingir rapidamente todas as partes móveis para não haver atrito entre elas. Assim, se o óleo não estiver de acordo com as especificações de viscosidade, ou seja, se for grosso demais para o motor, haverá insuficiência de lubrificação por alguns segundos ou minutos, até que o motor esquente tornando o óleo mais fino, logo, mais fluido. 

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Como se forma a borra no motor?
A principal causa da formação de borra no motor é a FALTA DE INFORMAÇÃO. Isso mesmo! Não sei quem foi que inventou que o óleo “X” é para ser trocado indiscriminadamente com 10.000 km. Nota: para isso ser verdade deveria, no mínimo, estar escrito na embalagem de cada frasco de óleo! O fato é que essa “máxima” se tornou uma febre e muitos dos meus clientes pedem esse tal óleo. Caro leitor, vou destacar a seguinte frase para que você grave!

Quem determina o perío­do de troca do óleo não é o fabricante do óleo, e sim, as condições de operação do veículo (conforme manual do proprietário).
Para ilustrar essa afirmação vou fazer duas suposições distintas mostrando as diferenças de operação em uso na cidade e na estrada.

Um veículo que sai da zona sul da cidade de São Paulo até o centro, percorre em média 25 km em aproximadamente uma hora e meia. Ou seja, ida e volta 50 km em 3 horas. Multiplicando por vinte dias, esse veículo terá percorrido 1.000 km em 60 horas. Para fazer chegar em 10 mil km temos que multiplicar por dez, logo, 10.000 km em 600 horas.

Agora vamos para a estrada. Em 3 horas um veículo percorre em média 250 km. Multiplicando por 20 dias daria 5.000 km em 60 horas. Para chegar em 10 mil km multiplicamos por 2, logo, 10.000 km em 120 horas.

Veja, a diferença é de cinco vezes em número de horas, em que o motor e todos os seus agregados permanecem em pleno funcionamento. Agora a conclusão é por sua conta!

Outro fator que implica na formação do “colesterol” do motor é o “sedentarismo”, leia-se, aquele veículo que quase não sai da garagem e quando sai, faz percursos curtos, menores do que 6 quilômetros. Nestes casos ocorre um fenômeno da Física, a CONDENSAÇÃO, que é a transformação do ar quente em água. Na prática, é assim: Quando o carro só sai de casa pra levar a criança no colégio e volta, o motor não aquece completamente ou quando aquece já é desligado porque chegou ao destino. Neste momento, o ar quente que fica na parte superior interna do motor, esfria e se transforma em água. São essas gotas de água que ficam nas partes mais altas como na tampa de válvulas, e pingam no óleo. Esse processo se repete diariamente e as pequenas gotas de água agem no óleo como oxidantes e, ao longo do tempo, se o óleo não for substituído no prazo correto, irá se transformar em “borra”. Assim como o colesterol ruim em níveis elevados a “borra” é assintomática, os problemas só irão aparecer quando algo já estiver danificado.

Tanto para o caso supracitado quanto para aqueles que quase não saem da garagem, imagine quantos anos esses carros levarão para chegar aos 10.000 km. Fazendo uma conta básica, se o carro percorrer 10 km por dia, em 365 dias ele terá percorrido 3.650 km, logo, para atingir 10.000 km levará quase 3 anos. (Período em que o óleo sofre com a ação da condensação).

Nos casos em que o veículo percorre diariamente distâncias maiores, o fenômeno da condensação também ocorre, entretanto, a água que cai no óleo não fica por muito tempo porque, quando o motor atinge temperatura acima de 90 °C, ocorre o processo inverso, a evaporação e o sistema de respiro do cárter expele a água em forma de vapor. 

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Existe mais um problema relacionado à temperatura do motor e percursos curtos, é a contaminação do óleo com o combustível. Explico: Quando o motor está frio, o módulo de controle da injeção eletrônica identifica e aumenta a quantidade de combustível que será injetada pelos bicos injetores; acontece que, por estar frio uma parte desse combustível (principalmente se for álcool), não queima e desce em forma líquida para o cárter e se mistura com o óleo. Se o carro percorrer longas distâncias, esse combustível presente no óleo também será evaporado, caso contrário, agirá como um segundo oxidante, contribuindo para a formação da terrível “Borra”.

Percebe-se que nestes casos de “sedentarismo” o número de horas que o motor permaneceu ligado não vem ao caso, o que importa é o tempo em que o óleo contaminado permanece dentro do motor.

Na próxima edição você irá descobrir o que é o “Detox” automotivo, não perca!

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