Oficina Brasil


Trocar a bateria não é a solução quando o defeito está no sistema de carga da motocicleta - parte final

Vamos entender como diagnosticar o sistema de carga da bateria, verificar possíveis fugas de corrente elétrica e identificar as causas de defeitos, antes de tomar a decisão de fazer a troca da bateria

Compartilhe
Por Paulo José de Sousa


Avaliação da Matéria

Faça a sua avaliação

Na edição anterior iniciamos um estudo sobre os sistemas de carga de baterias das motocicletas.  Nessa segunda parte da matéria vamos ir um pouco mais fundo no assunto e também apresentar as principais causas de defeitos no sistema.
Nos diagnósticos dos sistemas eletroeletrônicos, a bateria descarregada deve estar entre as primeiras peças submetidas a análise, sem querer generalizar, mas em alguns casos a baixa tensão (V) indicada na bateria deve ser entendida como consequência de um defeito oculto no sistema, ou resultado da falha operacional do motociclista e não a causa do defeito. Vale lembrar que a bateria tem grande influência no desempenho do sistema de ignição e injeção eletrônica da motocicleta
Um breve histórico para contextualizar o assunto: há um pouco mais de duas décadas a bateria não tinha tanta importância no sistema elétrico, algumas motocicletas funcionavam bem até sem a peça. A função básica da bateria era alimentar as lâmpadas e buzina das motos de baixa cilindrada, os sistemas elétricos dessas motocicletas eram mais simples.  Os modelos de moto de médio e grande porte já eram equipados com sistemas de partida elétrica, exigiam uma bateria mais potente, e um sistema de carga mais elaborado, porém eram minoria. Essas motocicletas com partida elétrica admitiam falhas na bateria, esses modelos possuíam pedal de partida, caso houvesse necessidade era só acionar o pedal que o motor funcionaria. Nos últimos anos a bateria ganhou mais destaque na parte elétrica da motocicleta, dada a importância para o bom funcionamento do sistema e o pedal de partida caiu em desuso.
Embora haja quem discorde, vale arriscar que a bateria é a peça mais importante do sistema eletroeletrônico da motocicleta.  A bateria equilibra o sistema, seu bom funcionamento assegura baixas emissões de poluentes, melhor rendimento do motor e menor consumo de combustível, além da facilidade na partida.
Com a evolução da eletroeletrônica presente na motocicleta o sistema passou a ser mais confiável e eficiente, a tecnologia trouxe os seguintes benefícios:

• Sistema de injeção eletrônica;
• Computador de bordo;
• Sistema ABS; 
• Sistema de navegação; 
• Sistemas de segurança;
• Acessórios de conforto. 

Tudo isso é muito bom, mas a tecnologia não perdoa maus tratos, bastam alguns descuidos do reparador ou do proprietário do veículo que a motocicleta apresentará defeitos na partida ou falha de funcionamento em uma das partes do sistema eletroeletrônico, sendo assim, a pane pode evoluir para uma parada do motor.
Já comentamos anteriormente que em problema elétrico a culpa nem sempre é da bateria, por isso em alguns casos a troca da peça não será a solução definitiva, o defeito pode estar relacionado às seguintes causas: 
• Falha na utilização da motocicleta (pouca utilização);
• Defeito no sistema de carga; 
• Fuga de corrente (A) da bateria ocasionada por defeitos nos componentes(s) do sistema eletroeletrônico;
• Ausência ou falha na manutenção preventiva.
GERAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA NA MOTOCICLETA

O conjunto alternador é a usina da motocicleta, aqui é produzida toda a energia elétrica que carrega a bateria para posterior consumo, essa energia elétrica é gerada em forma de corrente alternada (AC). Nesse modelo, a intensidade da corrente muda regularmente de direção de fluxo em função da alteração de polaridade dos imãs que giram ao seu redor. 
Desvantagem: a corrente alternada não pode ser armazenada por isso a necessidade da conversão, o regulador retificador cumpre essa função, converte a tensão alternada (ACV) em contínua (DCV) para poder ser armazenada na bateria e posteriormente dar partida no motor e alimentar demais componentes. 


 O alternador, na grande maioria das motocicletas, está localizado na tampa esquerda do motor, o seu conjunto é formado por rotor e estator. O rotor (magneto) é um volante composto de imãs, está montado no lado esquerdo do virabrequim e atua na rotação real do motor.  

O estator (mesa de bobinas) é uma associação de bobinas que são fixadas na carcaça esquerda do motor ou na tampa de mesmo lado. 
 As bobinas transformam a energia mecânica resultante da rotação do motor em energia elétrica (tensão alternada). 


A energia elétrica alternada só é gerada quando há rotação no motor, o volante gira em torno das bobinas, nesse momento ocorre a indução eletromagnética, o campo magnético em contato com as bobinas provoca a indução.
 Este fenômeno é o mesmo que ocorre nas bobinas responsáveis pela iluminação do farol e da lanterna (ACV) das motocicletas mais simples, em que o sistema de iluminação depende da rotação do motor para funcionar.
O pesado volante também tem um papel fundamental na absorção de parte das vibrações geradas no motor, em baixas rotações a massa do mesmo atua como contrapeso no virabrequim e também colabora para manter o torque do motor.
 
COMPONENTES DO ESTATOR (BOBINAS)

Nas motocicletas mais simples o estator possui as seguintes bobinas:
Bobina de carga: fornece tensão (V) para o regulador/retificador que posteriormente carregará a bateria, na maioria das motocicletas há os seguintes sistemas:  trifásico, bifásico ou monofásico, ou seja, ocorre a associação de três bobinas, duas bobinas ou o conjunto possui apenas uma bobina para carregar a bateria. O conjunto de três bobinas é mais potente está presente em motocicletas pequenas, médias e grandes.
Bobina de luz: presente nas motocicletas em que o farol e a lanterna são alimentados por tensão (V) alternada
Bobina de pulso (gerador de pulso): nas motocicletas carburadas a função é determinar o ponto de ignição, nos modelos equipados com injeção eletrônica a peça tem mais algumas tarefas, ex.: fornecer ao módulo do motor a posição do virabrequim, rotação do motor etc.


Os diagnósticos do estator estão relacionados a medição da resistência elétrica e pico de voltagem e variam entre os modelos de motocicleta. Para a medição não há a necessidade de remover o estator.

REGULADOR/RETIFICADOR 

Esse componente regula a tensão alternada proveniente do alternador, de maneira que a mesma permaneça na faixa adequada de trabalho da motocicleta e transforma essa tensão alternada (AC) em tensão contínua (DC) para armazenamento na bateria.


Os componentes do regulador retificador são envolvidos em carcaça de alumínio que possui aletas para dissipar o calor. O regulador retificador é instalado em locais que facilitam a ventilação, a alta temperatura prejudica a retificação e transformação da tensão e reduz a vida útil do componente. Em geral o regulador/retificador possui circuitos internos equipados com diodos (semicondutores, condutores que atuam somente em uma direção).
Cuidados básicos na remoção e instalação da bateria
Os sistemas eletrônicos e os acessórios que equipam as motocicletas são sensíveis e requerem procedimentos definidos de acordo com o fabricante do modelo, por isso não remova ou instale a bateria sem conhecer as regras.
Ao remover uma bateria inicie pelo polo negativo e em seguida desconecte o polo positivo e, para o processo de instalação faça a operação na ordem inversa.


O tempo de carga da bateria variará de acordo com a tensão (V) da peça.
Na instalação da bateria pode ser necessário algum procedimento de reinicialização e a limpeza de defeitos memorizados na ECU.
Principais causas de problemas no sistema de carga da bateria:
• Conexões do estator e regulador/retificador defeituosas, frouxas, oxidadas ou contaminadas por água (foto);
• Cabos danificados, ressecados ou prensados na carcaça do motor;
• Superaquecimento nas bobinas causado por nível de óleo do motor estar abaixo do especificado;
• Falha na ventilação do regulador retificador;
• Sobrecarga no sistema causada por acessórios não originais da motocicleta;
• Volante (rotor) solto ou estator solto;
• Chaveta do rotor quebrada.

Comentários