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Gás refrigerante automotivo está na 4ª geração, mas por aqui continuamos na 3ª com o R134a

Enquanto as indústrias automotivas na Europa, Ásia e Estados Unidos utilizam o novo gás refrigerante HFO-1234yf, os reparadores brasileiros já enfrentam o desafio de atender carros importados com este gás

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Por Antônio Gaspar de Oliveira


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Os carros novos importados estão chegando no mercado nacional com um sistema de ar-condicionado que é desconhecido pela grande maioria dos reparadores e para os poucos que já conhecem, sabem que a maior barreira está no custo dos equipamentos e na aquisição do próprio gás que é muito mais caro que o tradicional R-134a, basta fazer uma breve pesquisa nos sites comerciais internacionais. 

Apenas por curiosidade, também é possível pesquisar no site do ministério do meio ambiente, que não tem informações sobre o novo gás refrigerante 1234yf e o mesmo ocorre no site da ABNT, catálogo de normas, que apresenta uma frase em vermelho informando a ausência, mas ao digitar R134a, aparecem várias normas. 

A única norma encontrada na ABNT que menciona gás refrigerante R-1234yf é a NBR 16666 de 2018 com o título Frigoríficos — Designação e classificação de segurança, com o seguinte objetivo:

“Esta Norma estabelece os requisitos mínimos para classificação de fluidos frigoríficos e atribui prefixos de designação da composição para fluido frigorífico. Esta Norma classifica a segurança de fluidos frigoríficos com base nos dados de toxicidade e inflamabilidade e os limites de concentração do fluido frigorífico”.

O fato é que estamos em um mundo globalizado, mas existem algumas bolhas de atraso tecnológico que, em algum momento, vão gerar transtorno para os reparadores especialistas em ar-condicionado automotivo, devido ao desconhecimento, falta de insumos, equipamentos, treinamentos e regulamentações.

Mesmo diante desta dificuldade local, a tecnologia aplicada no sistema de ar-condicionado automotivo evolui e já estamos na quarta geração de gases refrigerantes. No início havia apenas a preocupação em fazer o ar da cabine ficar mais frio para gerar conforto aos ocupantes do veículo, sem haver preocupações com a agressão ao meio ambiente e foi exatamente este o motivo que impulsionou o desenvolvimento de novos gases com menor prejuízo ao nosso fragilizado meio ambiente.

Observando a linha evolutiva dos gases, percebe-se que foram sendo eliminados os elementos químicos que de alguma maneira geravam danos ao ambiente.  

Um desses elementos é o cloro que esteve presente no antigo R12 (CFC - clorofluorcarbono), responsável pela grande destruição da camada de ozônio do nosso planeta. Com a adesão de grande parte dos países ao Protocolo de Montreal na década de 1980, foi possível traçar metas de redução de produção e consumo até a sua proibição total, dando início à recuperação da delicada camada de ozônio que nos protege contra os raios ultravioletas emitidos pelo sol.

No lugar do CFC foi introduzido o HCFC – hidroclorofluorcarbono, em seguida o HFC –hidrofluorcarbono (R-134a) que ainda está em uso, mesmo sabendo-se que este gás contribui com o aquecimento global.

Desde os anos 1930 até a década de 1990, o gás Freon, mais conhecido como R12, foi utilizado em todos os sistemas de ar-condicionado de veículos e industriais. Em meados dos anos 90, o R12 foi descontinuado e substituído pelo gás refrigerante R-134a e atualmente, quase 30 anos após sua introdução, está sendo substituído pelo R-1234YF.

Também conhecido como tetrafluoropropeno, o gás refrigerante R-1234yf faz parte de uma nova família de refrigerantes, chamados de hidrofluoroleofinas (HFOs), comercializado com o nome Opteon YF pela Chemours e como Solstice YF pela Honeywell.

Foi o aquecimento global o grande motivo para a atual mudança do gás refrigerante, que abriu espaço para a utilização do HFO-1234YF, que tem um potencial de aquecimento global (GWP) de menos de 1, em comparação com 1.400 para o R-134a, por isso que está sendo introduzido em muitos países e o Brasil não aparece nesta lista. Foram muitos os questionamentos sobre a possibilidade deste gás refrigerante pegar fogo, obrigando a indústria a realizar intensos testes e o resultado final é que o gás refrigerante queima, mas é necessário muito calor para entrar em ignição e o detalhe observado é que ele queima lentamente. Lembrando que os outros fluidos que estão próximos ao motor pegam fogo mais facilmente e geram mais calor do que o R-1234yf. 

Todas as inovações chegam acompanhadas de normas e procedimentos de uso, armazenamento e também as manutenções necessárias que são de grande interesse dos nossos reparadores automotivos, mas como já vimos, ainda não temos regulamentação aplicável para o R-1234yf aqui no Brasil.

A referência técnica internacional de treinamento para serviços no sistema de climatização de automóveis que utilizam o gás refrigerante R-1234YF é a SAE J2845 de 2011, que também chama a atenção para a SAE J639 - padrões de segurança para sistemas de compressão de vapor de refrigerante em veículos motorizados, comentada na matéria de ar-condicionado do caminhão Mercedes Bens Axor 2544 ano 2021. Os fabricantes de automóveis projetam e fabricam seus veículos e também desenvolvem estratégias de treinamentos para as manutenções de cada sistema dos carros. 

O ar-condicionado é parte destes componentes que precisam de pessoas com treinamento técnico necessário para garantir que os procedimentos recomendados pelo fabricante sejam aplicados nos serviços de reparo de sistemas de ar-condicionado que estão usando R-1234yf. 

Os reparadores devem receber treinamentos para reconhecer qual gás refrigerante está aplicado no veículo, ter acesso às informações técnicas necessárias para um serviço seguro, além do conhecimento no uso de equipamentos exclusivos para cada gás refrigerante que inclui os equipamentos dedicados ao gás refrigerante R-1234yf.

Além de seguir todas as recomendações dos fabricantes, o gás refrigerante R-1234yf possui requisitos adicionais de segurança específicos que os reparadores devem conhecer para manusear este novo produto químico:

1 - HFO-1234yf é classificado como moderadamente inflamável, podendo pegar fogo em certas circunstâncias. 

• Providencie uma ventilação adequada no ambiente de trabalho e evite que o refrigerante se acumule dentro ou sob o veículo, ou em locais baixos, como escada ou poço. Deixe as portas e janelas do carro abertas durante o serviço para evitar o acúmulo de gás refrigerante no caso de um grande vazamento.

• Elimine todas as fontes de faíscas, calor ou chamas na área de trabalho. Equipamentos elétricos como o esmeril ou escova de aço são comuns na oficina e utilizam motores elétricos e interruptores que emitem faíscas, temos também o sistema de ignição do carro que pode produzir faíscas.

• De preferência ao uso de luzes de trabalho de led, não use lâmpadas incandescentes que pode cair e quebrar, dando início a um possível incêndio.

• Evite fumar e também não deixe outras pessoas permanecerem fumando no local de trabalho.

• Os extintores de incêndio devem estar dentro da validade e com acesso fácil e rápido.  

2 – Sempre utilize EPIs durante os serviços, principalmente as luvas e óculos de proteção

• No caso de ingestão acidental deste gás refrigerante, procure socorro médico imediatamente. Os sintomas podem apresentar aumento da frequência respiratória, falta de ar, dor de cabeça, pulso acelerado, tontura.

3 - A armazenagem dos botijões deste gás refrigerante não pode ser em locais baixos, como porões ou escadas 

4 - Carros híbridos ou elétricos possuem procedimentos adequados para desativar o sistema elétrico de alta tensão antes de iniciar os reparos. 

5 – Para evitar a liberação acidental e exposição, somente conecte os equipamentos de serviço quando as pressões estiverem baixas.

6 – Durante o processo de recarga, não deixe outra pessoa trabalhar embaixo do carro, pois há o risco de vazamento do gás refrigerante que vai descer e permanecer sob o carro, mantenha o ambiente ventilado.

7 – O gás refrigerante R-1234yf foi desenvolvido para ser utilizado somente em sistemas especificamente projetados para ele.

8 – Para a manutenção em veículos que utilizam R-124YF, é necessário adquirir equipamentos específicos, não tente usar equipamento projetado para outros refrigerantes neste sistema.

9 – A maioria dos carros tem uma etiqueta com as especificações, verifique a quantidade correta de gás refrigerante.

10 – Os componentes do sistema de ar-condicionado que utiliza o gás R-1234yf são diferentes dos que utilizam R-134a, não são intercambiáveis.

11 – Lembre-se que o reparador é responsável pelo serviço realizado, evite colocar o cliente em risco com serviços mal feitos.

Algumas montadoras estão colocando referências técnicas SAE na etiqueta do ar-condicionado que utiliza R-1234yf, como exemplo, Audi, Toyota e Chrysler indicam três, J639, J2842 e J2845, sugerindo que o reparador antes de iniciar o serviço, saiba que será necessário ter conhecimento técnico baseado nestas regulamentações. 

Esteja sempre atento aos rótulos ou etiquetas de informações do ar-condicionado dos carros novos e antes de dizer ao cliente que você vai executar o serviço, tenha certeza do que está sendo prometido, pois envolve tudo que foi apresentado nesta matéria. 

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