O Chevrolet Cruze foi lançado na edição de 2008 do Salão de Paris, e no Brasil, em setembro de 2011. O sucessor do consagrado Vectra chegou para disputar mercado na categoria dos sedans médios, onde estão: Toyota Corolla, Honda Civic, Volkswagen Jetta entre outros. Para tanto, a montadora trouxe algumas novidades: comandos de válvulas continuamente variáveis (Dual CVVT) que variam o tempo de abertura das válvulas de admissão e de escape; transmissão automática ou manual de seis marchas; sensores de inclinação que identificam subidas e descidas para auxiliar na condução do veículo; Programa eletrônico de Estabilidade (ESP); controle de tração e freios ABs com EBD de última geração e PBA (Assistência à frenagem de pânico).
Ficha técnica do Cruze 1.8 16v Automático |
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Potência a 6.300 rpm | 144 cv (A) 140 cv (G) |
Torque a 3.800 rpm | 18,9 kgfm (A) 17,8 kgfm (G) |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Comando de válvulas | Duplo no cabeçote / correia dentada |
Variação do comando | Admissão e escap |
Freios | Discos nas 4 rodas / ABS, EBD e PBA |
Suspensão dianteira | Independente tipo Mc Pherson |
Suspensão traseira | Eixo de torção |
Direção | Assistência elétrica |
Transmissão | Automático ou manual de 6 marchas |
Cinco anos se passaram e a pergunta que não quer calar é: a quantas anda a manutenção do Cruze nas oficinas independentes?
Para responder essa questão, entrevistamos três Reparadores de oficinas independentes que foram escolhidos aleatoriamente a partir do site guiadeoficinasbrasil.com.br e Fórum do jornal Oficina Brasil. Todos os depoimentos são fundamentados em experiências vivenciadas em campo. São eles:
João José Morelli Neto, 45 anos (foto 03), é técnico e proprietário da oficina Nacional Imports, localizada na cidade de Campinas – SP bairro Jd. Proença. João é um reparador que praticamente “nasceu” na oficina. Aos seis anos de idade já ajudava seu pai, trabalhou dos 14 aos 18 anos em outras oficinas e depois, em 1988 voltou a trabalhar na oficina do pai. “Em 1992 prestei um concurso público e passei, fui trabalhar na Polícia Militar como Bombeiro, mas não deixei a oficina, conciliava os dois trabalhos e ainda me dedicava a cursos de injeção, mecânica, direção hidráulica e câmbio automático, no total, só de câmbio automático e automatizado foram 16 cursos”, conta o técnico.
Reinaldo da Silva Emerenciano, 38 anos (foto 04), é técnico em mecânica e injeção eletrônica e proprietário da “Mecânica Reinaldo” na cidade de Cerqueira Cézar – SP no bairro Bela Vista. Reinaldo nos conta que começou a trabalhando em mecânica industrial, mas sempre se interessou por mecânica automotiva e tinha um sonho de ter a sua própria oficina. Então, em determinado momento, começou a fazer cursos na área automotiva e praticava nos carros de amigos. “Trabalhei em oficinas na capital de São Paulo, me preparei e optei em montar a minha oficina no interior”, diz orgulhoso o assíduo participante do Fórum do jornal Oficina Brasil.
Claudio Marinho Guedes, 57 anos (foto 05), é Bacharel em Administração de Empresas, técnico em mecânica automotiva e proprietário do “Centro Automotivo Autotoki”, localizada na Vila Mascote, São Paulo-SP. “Eu trabalhava em uma multinacional, mas o meu desejo sempre foi trabalhar com carros, então, quando surgiu a oportunidade em 1990 comprei uma oficina montada, onde estou até hoje. Fiz uma série de cursos relacionados manutenção automotiva e continuo fazendo. Aliás, esse é um quesito obrigatório para nós da Autotoki”, diz o Reparador que atende em média, 90 carros por mês.
Agora que já conhecemos um pouco da história de cada reparador, vamos ver o que eles têm a nos contar sobre a manutenção do Cruze.
SUPENSÃO DIANTERIA E TRASEIRA
A suspensão dianteira do tipo Mc Pherson com molas helicoidais, amortecedores telescópicos pressurizados e barra estabilizadora (fotos 06 e 07). Traseira, semi-independente com eixo de torção, molas progressivas e amortecedores telescópicos pressurizados (fotos 08 e 09). Possui controle eletrônico de estabilidade ESP.
Esse conjunto é muito utilizado nos veículos atuais pela sua simplicidade e eficiência, no caso do Cruze não é diferente, os reparadores consultados, de forma geral, não encontraram defeitos crônicos ou recorrentes apenas substituição de bieletas, terminais, amortecedores e batentes por desgaste natural e condizente com a quilometragem. No entanto, um grave problema apontado pelo Reparador Claudio e constatado por mim, Tenório Junior (foto 01), em minha oficina, chama a atenção: trata-se de um barulho muito forte quando passa em qualquer irregularidade do solo; ao levantar o carro, aparentemente nada fora do normal, o jeito foi desmontar o conjunto para verificar separadamente cada componente, só assim foi possível constatar uma excessiva folga radial na aste do amortecedor. Neste caso verificado por mim, o veículo estava com apenas 24.000 km (foto 10), por incrível que pareça, em todos os casos não havia vazamento de óleo.
FREIOS
O sistema de freio possui discos ventilados na dianteira (foto 11) de 276mm x 26mm e sólidos na traseira de 268mm x 12mm (diâmetro x espessura). É auxiliado pelos sistemas: ABS (Anti-lock Braking System) quer dizer sistema de freio antitravamento; com EBD (Eletronic Brake Force Distribuition) quer dizer distribuição eletrônica da força de frenagem, em outras palavras, ele controla a força de frenagem nos eixos dianteiro e traseiro e PBA (Panic Brake Assist) esse sistema entra em funcionamento quando detecta situação de pânico, por intermédio de uma série de variáveis. O PBA aumenta a pressão sobre os freios diminuindo a distância de frenagem.
Apesar de tanta tecnologia, a parte mecânica do sistema é relativamente simples, o freio de estacionamento funciona por intermédio de cabo na própria pinça de freio (foto 12). Nenhum dos reparadores relatou problemas recorrentes nos componentes do freio.
SISTEMA DE INJEÇÃO/IGNIÇÃO
Nenhuma avaria fora do comum foi constatado por nenhum dos técnicos consultados. Porém, é importante ressaltar que as manutenções preventivas e a boa qualidade do combustível utilizado são importantes para melhorar e aumentar a vida útil dos componentes do sistema de injeção e ignição.
Por falar em combustível, consta nos relatos dos reparadores a queixa de alto consumo do modelo avaliado. Segundo a montadora o consumo em uso urbano é de 6,6 km/l (A); 8,6 km/l (G) e rodoviário 9,1 km/l (A); 11,8 km/l (G).
Dica do João: Cliente chega reclamando de consumo excessivo de óleo do motor e às vezes marcha lenta irregular. Verifique o corpo de borboleta, se estiver sujo de óleo, provavelmente a membrana do anti-chamas que fica na tampa de válvulas (foto 13 e 14), estará avariada; basta substituí-la que o defeito será sanado.
Dica do Consultor OB Tenório Junior – Quando o cliente chega reclamando de alto consumo é importante questionar algumas coisas: quanto o veículo faz por litro? O consumo é alto na cidade e na estrada? O consumo é alto na gasolina e no álcool? As respostas obtidas irão ajudar no diagnóstico, pois, se o consumo é alto na cidade e na estrada é satisfatório, o problema está no trajeto e na forma de condução; se o consumo é alto apenas em determinado tipo de combustível, o problema pode ser ajuste do AF ou psicológico; se o cliente não sabe quanto faz por litro...não dá pra saber se o reparo que você irá efetuar surtirá efeito. Não obstante, ainda há de se considerar a qualidade de combustível e os golpes de bomba, aqueles em que a bomba do posto registra 60 litros num tanque que tem sua capacidade máxima, 55 litros.
TRANSMISSÃO AUTOMÁTICA
Segundo o técnico João, é um câmbio muito bom de 6 velocidades mas, apresenta um defeito comum, a quebra do disco mola (foto 15). “Geralmente o cliente chega reclamando de um barulho seguido de um tranco na troca de marcha, de primeira para segunda marcha”, relata o Reparador.
De acordo com o técnico Claudio a troca do óleo da transmissão é fundamental para aumentar a vida útil. “Eu recomendo trocar o óleo a cada 60 mil km”, completa o Reparador.
Dica do João – Ao perceber o barulho e tranco na troca de marchas, o melhor a fazer é levar ao especialista para verificar e sanar o problema, porque esse problema chega a quebrar o eixo de entrada e às vezes, a carcaça do câmbio.
REPARABILIDADE
De acordo com os reparadores entrevistados a reparabilidade é boa, pois, há bom espaço para realizar as manutenções e não necessita de muitas ferramentas específicas, a não ser para a substituição da correia dentada, que exige ferramental próprio e capacitação técnica.
Um ponto que chama a atenção é a facilidade de acesso aos principais componentes do sistema de injeção eletrônica no compartimento do motor, como o módulo de controle eletrônico da injeção (foto 16), as velas e os bicos (foto 17).
O Reparador Reinaldo, apesar de compartilhar da opinião dos colegas, fez uma observação interessante: “A troca da bomba de combustível é muito trabalhosa porque há a necessidade de remover o tanque, enquanto na maioria dos veículos é possível acessar a bomba por uma abertura localizada sob o banco traseiro, o que diminui o tempo de trabalho”, pontua o técnico.
PEÇAS
Neste quesito os reparadores são unânimes, encontram as peças de maior giro em autopeças independentes e as peças mais específicas, em concessionárias. De acordo com os técnicos não há dificuldade para encontrar as peças nas concessionárias e a política de comercialização é simplesmente a melhor!
INFORMAÇÃO TÉCNICA
A grande ferramenta que possibilita o trabalho dos reparadores nos dias atuais é a informação técnica, sem ela é impossível reparar os carros que, a cada dia trazem uma novidade. De acordo com os reparadores, quando há a necessidade de informação técnica o caminho mais curto é a internet, através do fórum do jornal Oficina Brasil, colegas de profissão e manuais desenvolvidos por empresas particulares especializadas no segmento. Apesar do canal na internet “reparadorchevrolet” disponibilizado pela marca e reconhecido pelos Reparadores, ainda falta muita informação técnica para atender a necessidade dos reparadores.
RECOMENDAÇÃO
João: É um bom carro, recomendo! Mas, não deixo de comentar sobre o problema comum do câmbio, do consumo elevado em comparação aos demais da mesma categoria e do custo das peças, que apesar de ser alto estão compatíveis com o porte do carro.
Reinaldo: Quando o cliente me pergunta dobre esse carro, eu digo que é muito bom mas alerto sobre os problemas comuns que já peguei e do consumo que é um pouco elevado comparando aos outros da mesma categoria.
Claudio: Não indico! É um carro que o cliente sempre reclama do consumo elevado, comparando com outros da mesma categoria ele é o que tem menor tecnologia aplicada ao motor, particularmente acho um motor ultrapassado. Por outro lado, os pontos positivos são: reparabilidade, disponibilidade de peças e preço de manutenção não é muito alto.
CONCLUSÃO
Esta matéria é realizada a partir de histórico do dia-a-dia das oficinas independentes, onde os Reparadores relatam os problemas já constatados por eles, suas facilidades e dificuldades para executar os reparos que são tão necessários quanto inevitáveis. Diante do exposto, destacamos alguns pontos positivos e outros negativos:
Reparabilidade – importante indicador que mostra o grau de dificuldade encontrado pelos reparadores no momento de efetuar os reparos, que implica diretamente no tempo de manutenção e custo de mão de obra.
Informação técnica – Apesar da marca ter um canal direto para o reparador, ainda falta muita informação sobre o modelo avaliado, de modo que os reparadores independentes se veem obrigados a procurar em outros meios, que nem sempre são confiáveis. Esse tópico é extremamente importante porque sem informação técnica segura, é praticamente impossível efetuar os reparos com precisão e agilidade.
Peças – Os Reparadores não relataram dificuldades para encontrar peças originais nem genuínas e a política de comercialização foi elogiada por unanimidade. Esse quesito é importante porque implica diretamente na qualidade do serviço, tempo e custo final da manutenção.
Consumo elevado de combustível – Apesar da subjetividade, esse foi um ponto negativo apontado por todos os Reparadores com base nas queixas dos próprios clientes. Digo subjetivo porque o consumo de combustível depende de uma série de variáveis que não dependem do fabricante. Contudo, é importante deixar a “luz acesa” como alerta.